RIO DE JANEIRO

Museu Nacional ganha meteorito de 4,5 bilhões de anos que caiu em Pernambuco

Meteorito caiu em Santa Filomena, no interior pernambucano

Fragmentos encontrados são de vários tamanhos - Flavio Silva/Cortesia

Pequeno, rochoso e extraterrestre. É assim que o pedaço do meteorito Santa Filomena, o mais novo a integrar o acervo de mais de 400 peças do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi descrito e entregue, nesta quinta-feira (13), pelo grupo de pesquisadoras da UFRJ, as "Meteoríticas". O meteorito, que pesa 2,85 quilos e tem mais de 4,5 bilhões de anos, caiu em 2020 em Pernambuco.

A cerimônia que ocorreu na entrada principal, marca a retomada do calendário de pesquisas e estudos da unidade e foi apresentada junto à peça do meteorito Bendegó, de 5,360 quilos, encontrado na Bahia em 1784, e transferido para o museu em 1888, a pedido de Dom Pedro.

Segundo o diretor da unidade, Alexander Kellner, apenas a entrada principal e o hall de acesso serão reabertos para visitação do público, previsto para ocorrer em 6 de junho de 2024. Já as obras de toda a complementação do museu devem ficar prontas no final de 2026.

— De uma forma geral, o projeto de reconstrução do museu está sendo feito em três partes. A primeira parte é a área do palácio, no Parque de São Cristóvão, que está avançando bastante. Tanto é que vamos abrir este bloco para visitação. A área do porto botânico que fica dentro do parque precisa de atenção. Na terceira área, do campo de pesquisa, nos preocupa muito, que é justamente a área onde nós estamos construindo as estruturas provisórias. Isso ainda não está do jeito que deveria estar. Precisamos de verbas e estamos trabalhando nisso. Este é o primeiro passo da retomada — afirmou o diretor.

O meteorito Santa Filomena, que pesa 2,85 quilos, é composto de fragmentos do sistema solar e tão antigo quanto a terra e o sol, com mais de 4,5 bilhões de anos. Antes, o meteorito orbitava a aproximadamente duas unidades astronômicas da Terra, ou seja, a uma média de 15 quilômetros por segundo, equivalente a 54 mil quilômetros por hora.

Foi no início da tarde de 19 de agosto de 2020, no céu da pacata cidade de 6.906 habitantes de Santa Filomena, a 710 km do Recife, no Sertão do Araripe, que uma chuva de pedras estrondou a localidade. Eram meteoritos classificados como condritos, tipos rochosos comumente encontrados. Um dos pedaços que integrou o estudo do grupo caiu no telhado da casa de uma senhora, ao lado de uma igreja.

No momento da queda, a moradora achou que fosse um gato. Quando identificou ser uma pedra, resgatou o artefato e o guardou, à espera das pesquisadoras. No dia seguinte, o grupo chegou à cidade para começar o estudo de identificação das pedras encontradas. O pedaço que, agora, está em solo carioca, no entanto, é um outro fragmento.

Segundo a pesquisadora do departamento de Geologia e Paleontologia Maria Elizabeth Zucolotto, que integra o grupo, o Santa Filomena veio de um cinturão dos asteroides, um espaço sem planetas, que fica entre Marte e Júpiter.

— É a primeira vez que a queda de um meteorito é registrada no Brasil, num estudo sobre a classificação dele, iniciado em 2019. O trabalho científico foi publicado ontem, e teve que ser bem completo — disse a pesquisadora detalhando a diferença dos achados rochosos:

— É importante que a população saiba a diferença até para nos ajudar na hora da entregar uma peça encontrada para pesquisa e classificação. Meteoro é um rastro luminoso no céu. Já a tocha que chega no chão e sobrevive a queda é o meteorito.

O grupo Meteoríticas, composto por quatro pesquisadoras, surgiu em 2017 através de um trabalho de campo em Palmas de Monte Alto, na Bahia. Segundo a pesquisadora Amanda Tose, do Instituto de Geociência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o coletivo atua em três frentes: pesquisa, trabalho de campo e publicação de artigo científico.

— São várias mulheres que trabalham na ciência. Somos mais que três. Nós criamos as Meteoríticas a partir de um trabalho em conjunto. Antes nós, cientistas, só atuávamos nos laboratórios.

Segundo o grupo, cerca de 400 peças do acervo de meteoritos foram recuperadas do incêndio. Pouco mais de 30 peças estão em exibição no Planetário do Rio. O trabalho da equipe com o Museu Nacional é terminar o trabalho de recuperação até 2026 para que as peças possam voltar a serem exibidas ao público no espaço.

— Concentramos as buscas nos locais que tinham meteoritos. Mas existia muita coisa que não era meteorito. Nosso trabalho agora é tentar identificar o que é meteorito e o que não é. Já que as peças se misturaram com o incêndio — afirmou Maria Elizabeth, uma das pesquisadoras.

A pesquisadora Maria Elizabeth adiantou ao Globo que as Meteoríticas têm uma rota internacional a caminho: a primeira viagem de caça de meteoritos no Peru, na última semana do mês de abril. Segundo a professora, a viagem marca o início de uma série de pesquisas em parceria com laboratórios internacionais de relevância científica, histórica e pioneira no Brasil.