À CPI, empresário bolsonarista se diz arrependido de ter ido ao ato de 8 de janeiro: "Estupidez"
Dono de rede atacadista diz que ficou com a impressão que soldados do Exército faziam a segurança do acampamento em frente ao quartel
O empresário Joveci Xavier de Andrade, um dos donos da rede Melhor Atacadista, negou ter participado dos ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no 8 de janeiro. Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do DF, ele disse estar arrependido de ter ido às manifestações golpistas, às quais classificou como uma “estupidez”.
Ele prestou depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal na condição de investigado. A Polícia Civil do DF suspeita que ele seja um dos financiadores do acampamento golpista montado em frente ao quartel general do Exército, em Brasília.
— Fui naquela euforia. Confesso que eu não deveria ter ido. Deu muito errado. Eu jamais imaginava aquilo. Em qual país, isso deu certo? Destruir Congresso, Supremo, isso só ia aumentar a nossa conta. Destroi tudo e agora volta o Bolsonaro? É de uma estupidez muito grande — declarou ele.
O empresário contou à CPI que chegou "próximo à rampa" do Palácio do Planalto, mas não invadiu nenhum prédios público.
Sobre as investigações da Polícia Civil que o apontam como fornecedor de lonas, alimentos e água ao acampamento, ele negou todas as acusações:
— Isso não é verdade (...) É difícil tirar dinheiro de comerciante. Andrade conseguiu na Justiça o direito de se manter em silêncio e não se incriminar, mas resolveu responder às perguntas dos deputados distritais. Ele teve os sigilos bancários quebrados pela CPI.
Andrade declarou que foi apenas três vezes ao acampamento, mas como um "desconhecido" e não como patrocinador. Lembrou ainda que se sentia confortável e "seguro" no acampamento por estar entre soldados fardados, que, segundo ele, apareciam por lá.
— Tinha a equipe do Exército no acampamento. Eles estavam por lá. Eram como se fossem... seguranças — disse ele ao presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT).
O parlamentar considerou esta a declaração mais grave do empresário: — Integrantes do Exército fazendo segurança de um acampamento que foi considerado terrorista. Esta foi a questão mais importante levantada hoje.
Além do arrependimento, o empresário também demonstrou ter mudado de opinião política desde janeiro. Na CPI, ele elogiou a urna eletrônica, disse reconhecer a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que não vai se meter mais em política.
— A urna eletrônica é o melhor sistema do mundo. Achei incrível os Estados Unidos, que é mais desenvolvido, usar ainda o sistema de papel — comentou.
Na próxima sessão marcada para quarta-feira, 19 de abril, o depoente será o general Augusto Heleno, ex-chefe do gabinete do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro. Segundo integrantes da CPI, ele confirmou a participação.