Quem é Jack Teixeira, suspeito de vazar documentos sigilosos dos EUA?
O jovem de 21 anos, originário da pequena cidade de Dighton, no sul de Massachusetts, se alistou na Guarda Nacional da Força Aérea em setembro de 2019
Membro de uma família com longa linhagem militar e descrito como patriota por seus amigos, Jack Teixeira é o protagonista improvável do maior escândalo de espionagem nos Estados Unidos em décadas.
Caso seja considerado culpado de vazar dezenas de documentos sigilosos, este integrante da Guarda Nacional de baixa patente, que obteve acesso reservado a informação sensível desde jovem, poderia ser condenado a uma longa pena de prisão.
A imagem apresentada a veículos de comunicação americanos por seus conhecidos é mais a de um jovem ingênuo que quis impressionar os amigos do que a de um lançador de alertas, decidido a desvendar os segredos dos Estados Unidos.
O jovem de 21 anos, originário da pequena cidade de Dighton, no sul de Massachusetts, se alistou na Guarda Nacional da Força Aérea em setembro de 2019.
Segundo documentos judiciais que citam registros do governo, Teixeira alcançou a patente do aviador de primeira classe - a terceira mais baixa para o pessoal alistado na Força Aérea -, em maio de 2022.
Especialista em comunicação e tecnologia, era destacado na base da Guarda Nacional Aérea de Otis, em Cape Cod, cerca de 110 km ao sul de Boston.
Em fevereiro deste ano, Teixeira era oficial de operações de defesa cibernética, disse um agente do FBI em declaração juramentada divulgada nesta sexta.
Segundo o agente especial Patrick Lueckenhoff, "como era requerido para seu cargo, Teixeira dispunha de uma autorização de segurança de alto sigilo, que lhe foi concedida em 2021".
Além dessa autorização, Teixeira também mantinha "acesso sensível compartimentado [SCI, na sigla em inglês] a outros programas altamente sigilosos".
O SCI se refere a informação com altas restrições. Para se ter acesso a ela, Teixeira precisou aceitar as condições de "proteger corretamente" a informação e não revelá-la a pessoas sem acesso privilegiado.
Também teve que se comprometer a não tirá-la de "instalações de armazenamento não autorizadas" ou guardá-la em "lugares não autorizados", destaca a declaração juramentada.
A acusação assegura que Teixeira começou a postar informação secreta em um chat coletivo da plataforma on-line Discord por volta de dezembro do ano passado.
O objetivo do grupo era "discutir assuntos geopolíticos e guerras atuais e históricas".
Teixeira é acusado de publicar primeiro parágrafos de textos dos documentos secretos antes de começar a postar fotos dos mesmos.
"Solitário"
O governo americano assegura que os registros de computador mostram que Teixeira acessou um documento sobre a movimentação de tropas na guerra da Rússia na Ucrânia um dia antes de o conteúdo ser publicado on-line.
Um amigo contou ao jornal The Washington Post que Teixeira não queria minar a segurança nacional dos Estados Unidos, mas educar os membros mais jovens do grupo on-line.
"Amava os Estados Unidos, mas simplesmente não confiava em seu futuro", disse a pessoa citada pelo jornal.
Outros membros do chat afirmaram que Teixeira compartilhou piadas racistas e antissemitas.
Teixeira vem de uma família com décadas de serviço militar. Seu padrasto passou 34 anos na mesma unidade que o enteado, enquanto sua mãe trabalhou para ONGs que apoiam militares veteranos, segundo o mesmo jornal.
Outros amigos contaram ao The Washington Post que Teixeira é patriótico, católico devoto, libertário e tem interesse em armas.
Ex-colegas informaram à CNN que às vezes ele se vestia com roupa camuflada para ir à escola.
"Era mais um solitário e seu fascínio pela guerra e pelas armas levaram muitas pessoas a se afastarem dele", contou um ex-colega.