Justiça francesa absolve Airbus e Air France por acidente do voo Rio-Paris em 2009
Este foi o acidente mais letal da história da aviação comercial francesa
A Justiça francesa absolveu, nesta segunda-feira (17), a fabricante europeia Airbus e a companhia Air France pelo acidente do voo AF447 Rio-Paris em 2009, que matou 228 pessoas, pelo qual as empresas foram julgadas por homicídios culposos.
Quase 14 anos depois da tragédia, o tribunal de Paris absolveu as duas empresas por considerar que, embora tenham cometido "falhas", não foi possível demonstrar "nenhuma relação de causalidade" segura com o acidente.
O tribunal proferiu sua decisão em uma sala repleta de familiares das vítimas, equipes da Air France e Airbus e jornalistas. Quando a absolvição foi anunciada, algumas partes civis se levantaram surpresas, enquanto a presidente continuou sua leitura em meio a um silêncio sepulcral.
Segundo a sentença, os "erros" das empresas aumentaram as chances de ocorrência do acidente, pelo qual a companhia aérea francesa e a fabricante são "civilmente responsáveis" pelos danos.
O tribunal adiou a questão da avaliação dos danos e prejuízos para uma audiência em 4 de setembro.
"Esperávamos um veredicto imparcial, não foi o caso. Estamos enojados", disse Danièle Lamy, presidente da associação Entraide et Solidarité AF447, que representa as famílias das vítimas.
"Destes 14 anos de espera, nada resta além de desesperança, consternação e raiva", acrescentou.
"Eles nos dizem: 'Responsáveis, mas não culpados'. É claro que nós esperávamos a palavra 'culpados'", afirmou Alain Jakubowicz, advogado da associação.
"Não faz sentido"
"Não faz sentido para mim", lamentou com a voz trêmula Ophélie Toulliou, que perdeu o irmão no acidente, compartilhando seu "sentimento de injustiça" e "incompreensão".
Em um comunicado, a Air France afirmou que "toma nota do veredicto". "A empresa sempre se lembrará das vítimas deste terrível acidente e expressa sua mais profunda compaixão a todas as suas famílias".
A Airbus considerou que a decisão é "coerente" com o arquivamento proferido no final da investigação em 2019, tendo também manifestado sua "compaixão" e seu "compromisso total (…) com segurança aérea".
Em 1º de junho de 2009, o voo AF447, que fazia a rota entre o Rio de Janeiro e Paris, caiu no meio da noite no Oceano Atlântico, algumas horas após a decolagem. Os 216 passageiros e 12 tripulantes a bordo morreram na tragédia.
A bordo do avião, um A330 com registro F-GZCP, estavam pessoas de 33 nacionalidades: 61 franceses, 58 brasileiros e 28 alemães, além de italianos (9), espanhóis (2) e um argentino, entre outros.
Este foi o acidente mais letal da história da aviação comercial francesa.
Após um processo longo, marcado por opiniões conflitantes dos magistrados e que aconteceu de 10 de outubro a 8 de dezembro, o Ministério Público havia solicitado a absolvição das duas empresas, por considerar que era "impossível demonstrar" sua culpabilidade.
A requisição não foi aceita pelas partes civis, pois consideraram que "aponta exclusivamente contra os pilotos e a favor de duas multinacionais", criticou Danièle Lamy, presidente da associação 'Entraide et Solidarité AF447' (Cooperação e Solidariedade AF447), que representa os parentes das vítimas.
Durante todo o julgamento, os representantes da Airbus e da Air France alegaram que as empresas não cometeram nenhum crime. Os advogados pediram a absolvição, uma "decisão humanamente difícil, mas técnica e juridicamente justificada", segundo a direção da Airbus.