Lula se reúne com chanceler russo e EUA acusa Brasil de repetir propaganda sobre Ucrânia
Para a Casa Branca, a mensagem de Lula sobre a guerra é "profundamente problemática"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta segunda-feira (17) o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, enquanto promove uma mediação internacional para a guerra na Ucrânia, embora tenha sido acusado pela Casa Branca de repetir a propaganda de Moscou e Pequim sobre o conflito.
A visita do chefe da diplomacia de Vladimir Putin ocorre um dia depois que Lula retornou de uma viagem de três dias a Pequim e Abu Dhabi, na qual propôs uma mediação conjunta com a China e os Emirados Árabes Unidos para encerrar o conflito entre Kiev e Moscou e acusou os Estados Unidos de incentivar as hostilidades.
Para a Casa Branca, a mensagem de Lula sobre a guerra é "profundamente problemática".
"Neste caso, o Brasil está papagueando a propaganda russa e chinesa sem observar os fatos em absoluto", afirmou nesta segunda a jornalistas, em Washington, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, sem mencionar Lula.
"Os últimos comentários feitos pelo Brasil de que a Ucrânia deveria considerar formalmente ceder a Crimeia como uma concessão à paz são simplesmente equivocados, especialmente para um país como o Brasil, que votou em sustentar os princípios de soberania e integridade territorial" nas Nações Unidas, frisou.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reagiu e disse discordar totalmente das críticas americanas.
"Não sei como ou por que ele (Kirby) chegou a essa conclusão. Mas não concordo de forma alguma", disse Vieira a jornalistas em Brasília.
Lavrov, que está iniciando uma turnê pela América Latina, encontrou-se com Lula no Palácio da Alvorada, mas não foi divulgada uma nota oficial sobre a conversa.
Mais cedo, ele se reuniu com Vieira. Em breve declaração à imprensa ao lado de seu par brasileiro, Lavrov "agradeceu" os esforços do Brasil.
"Estamos agradecidos à parte brasileira (...) pela contribuição de uma solução para o conflito", afirmou o chanceler.
Em sua primeira visita ao Brasil desde 2019, o diplomata russo reiterou que Moscou quer que o conflito na Ucrânia seja "solucionado o mais rapidamente possível". Porém, "precisamos resolvê-lo de uma forma duradoura e não imediata", acrescentou.
"Abordagem semelhante"
Vieira e Lavrov apresentaram posições comuns em relação ao cenário geopolítico mundial, condenando as sanções das potências ocidentais contra Moscou pela guerra e defendendo uma reforma das instituições internacionais, incluindo o Conselho de Segurança da ONU.
"A abordagem da Rússia e do Brasil das questões que estão ocorrendo atualmente no mundo é semelhante. Os dois países estão unidos em seu desejo de contribuir para uma ordem mundial mais democrática e policêntrica", disse Lavrov.
O chanceler russo também visitará Cuba, Venezuela e Nicarágua, de acordo com a agência de notícias estatal russa, TASS.
Lula está promovendo negociações para acabar com a guerra, apresentando o Brasil como um intermediário neutro.
Durante sua visita ao presidente chinês, Xi Jinping, na semana passada, propôs a criação de um grupo de países similar ao G20 para mediar entre Rússia e Ucrânia, incluindo o gigante asiático.
No entanto, causou inquietação no Ocidente, ao acusar Washington de "incentivar" a guerra e afirmou que os Estados Unidos e Europa "precisam começar a falar sobre a paz".
Durante uma escala nos Emirados Árabes Unidos no fim de semana, também reiterou sua opinião de que a Ucrânia compartilha com a Rússia a culpa da guerra, algo que o país invadido rechaça com veemência.
"Obviamente, queremos que a guerra acabe", declarou Kirby. "Isto pode acontecer hoje, agora, se o senhor Putin parar de atacar a Ucrânia e retirar suas tropas."
Lavrov disse neste mês que a Rússia quer que as conversações de paz se concentrem na criação de uma "nova ordem mundial", já que Moscou rejeita "um mundo unipolar dirigido por uma hegemonia", em referência aos Estados Unidos.
O Brasil não se alinhou às nações ocidentais que impuseram sanções à Rússia e se recusou a fornecer armas à Ucrânia.
Em março, o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, se encontrou com Putin no Kremlin para discutir a abertura de conversações de paz com a Ucrânia.
Brasil e Rússia fazem parte do grupo Brics de países emergentes, junto com Índia, China e África do Sul.