Energia Eólica

ArcelorMittal e Casa dos Ventos vão construir parque eólico de R$ 4,2 bi na Bahia

Empresas criaram uma joint venture com 90% do fornecimento direcionado à siderúrgica, que mira em descarbonização da produção

Empresas criaram uma joint venture para a instalação de um parque eólico na Bahia, com capacidade instalada de 553,5 MW - Divulgação

A ArcelorMittal Brasil, siderúrgica que lidera a produção de aço no país, e a Casa dos Ventos, de geração de energia de fontes renováveis, criaram uma joint venture para a instalação de um parque eólico na Bahia, com capacidade instalada de 553,5 MW. Ao todo, o projeto contará com R$ 4,2 bilhões em investimento, com operação prevista para começar no início de 2026.

— Este projeto traz também o maior contrato corporativo de consumo de energia já fechado no país. A ArcelorMittal vai consumir 90% a 92% da geração desse parque — frisou Jefferson de Paula, presidente da ArcellorMittal Brasil e CEO de Aços Longos e Mineração para a América Latina.

O restante da energia gerada será comercializada sob parâmetros que ainda serão discutidos.

A ArcelorMittal terá 55% de participação na joint venture, enquanto o restante fica com a Casa dos Ventos. O parque eólico de Babilônia Centro, que contará com 123 aerogeradores, ficará em Várzea Nova. As obras serão realizadas entre 2024 e 2025.

O contrato de fornecimento assinado com a siderúrgica é 267 MW médios de energia, volume suficiente para abastecer aproximadamente 1,1 milhão de residências. Ele terá validade de 20 anos, podendo ser estendido por mais 15.

Metas de redução de CO2

O acordo, explica De Paula, é motivado por duas razões principais. Uma delas é o forte investimento que vem sendo feito pela companhia no Brasil, com a previsão de aporte próximo a R$ 8 bilhões nos próximos anos, sobretudo em desenvolvimento de novos produtos de alta qualidade.

— E para isso, vamos precisar de mais energia. Outra coisa é a meta de reduzir a emissão de gás carbônico em nossa produção. A ArcelorMittal tem a meta de reduzir suas emissões em 25% até 2030, com investimentos de US$ 10 bilhões até lá, e ser carbono neutra em 2050 — reforça o executivo. — A taxa de retorno do projeto é muito interessante. Maior que a de projetos que temos dentro do aço. É estratégico porque precisamos de energia a preço competitivo.

Para cumprir essa meta, continua ele, será preciso adotar estratégias já conhecidas, como substituir o uso de carvão mineral pelo vegetal nos alto fornos das unidades de produção no Brasil — estratégia que pode reduzir em até 15% as emissões de CO2—, mas também inovar.

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Lucas Araripe, diretor-executivo da Casa dos Ventos, destaca a importância do custo competitivo do projeto para a criação desta parceria:

— A Casa dos Ventos tem buscado parceiros para apoiar a transição energética das empresas. Trata-se de um parque eólico muito competitivo, com escala e sinergias de rede. Também já adquirimos máquinas da Vestas (para esse parque) em condições muito competitivas.

No fim do ano passado, a Casa dos Ventos fechou a compra de 291 aerogeradores que somam 1,3 GW em capacidade instalada, com a Vestas, multinacional fabricante dessas turbinas.

Os equipamentos serão usados em dois parques eólicos da Casa dos Vendos, o de Babilônia Centro, que integra a joint venture com a ArcelorMittal, e o Serra do Tigre, no Rio Grande do Norte. Juntos, esses dois projetos somam R$ 9 bilhões em investimento.

Preço competitivo

A ArcelorMittal Brasil, explica De Paula, já produz metade da energia utilizada em sua produção no país. A energia contratada junto a Casa dos Ventos vai representar o equivalente a 38% do consumo total de energia da companhia em 2030. E vai evitar a emissão de 208 mil toneladas de gás carbônico por ano, o equivalente a 9,2 milhões de árvores plantadas, diz o executivo.

— Teremos energia com preço super competitivo. É o foco. Estamos sempre buscando oportunidades para gerar valor para a empresa. Não há outro projeto neste momento em vista, mas estamos abertos porque energia é um grande fator de custo para uma siderúrgica.

O executivo frisou, porém, que não é a intenção da ArcelorMittal, ao menos não neste momento, de abrir um braço voltado para a produção de energia. O que não quer dizer que, lá na frente, isso não se abra como oportunidade de negócio, disse ele:

— Somos uma empresa de aço, mas um dos dez maiores consumidores de energia do país. Então, decidimos estrategicamente não apenas investir, mas participar do projeto e aprender o negócio — diz De Paula, que acrescenta que a companhia já tem projetos em moldes similares ao fechado com a Casa dos Ventos na Argentina e na Índia.

Para ele, oportunidades seguirão aparecendo, incluindo na área de produção de hidrogênio verde, em que o Brasil “tem vantagem muito grande em relação a outros países” onde opera a Arcelor, frisa o executivo.

Vantagem em crédito

Os investimentos da siderúrgica no país vêm ganhando fôlego. Além dos quase R$ 8 bilhões já estimados para ampliar os parques produtivos do grupo, a ArcelorMittal adquiriu a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará, em meados de 2022, investimento de R$ 11,4 bilhões.

Outro pilar importante do negócio, segundo Araripe, está do lado do crédito, citando a parceria fechada com a francesa TotalEnergies no fim de 2022. A empresa adquiriu pouco mais de um terço do braço de geração da Casa dos Ventos.

— A parceria com a TotalEnergies, com garantias corporativas, traz capacidade de crédito muito interessante e que se reflete em condições competitivas de (obter) financiamento — acrescenta ele.

Com 1 GW de capacidade instalada em operação, a Casa dos Ventos deve alcançar 3GW de potência de geração em parques eólicos até o fim de 2025, frisa Araripe.