Polônia relembra 80 anos do Levante do Gueto de Varsóvia
O levante foi o maior evento conhecido de resistência urbana judaica contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial
Com concertos, encontros e cerimônias solenes, na presença dos presidentes de Israel e da Alemanha, a Polônia relembra nesta quarta-feira (19) o 80º aniversário do Levante do Gueto de Varsóvia, onde um grupo de combatentes judeus atacou os nazistas, preferindo morrer com armas do que em um campo de extermínio.
O levante, de 19 de abril a 16 de maio de 1943, foi o maior evento conhecido de resistência urbana judaica contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
As sirenes municipais e os sinos das igrejas de Varsóvia soaram ao meio-dia para recordar os insurgentes mortos neste bairro, aniquilado pelos alemães.
Os presidentes de Israel, Isaac Herzog, da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e da Polônia, Andrzej Duda, prestaram homenagem às vítimas em frente ao monumento aos Heróis do Gueto, localizado no local onde ocorreram inúmeros confrontos durante a revolta.
O presidente alemão é o primeiro chefe de Estado deste país a discursar neste local. Depois, os três governantes irão juntos a uma sinagoga.
Em toda a cidade, como nos anos anteriores, mais de 3 mil voluntários distribuíram flores de narciso de papel, que as pessoas usam em suas jaquetas e casacos.
Um gesto em memória de Marek Edelman, o último comandante do levante, falecido em 2009, que costumava marcar este aniversário colocando um buquê de narcisos amarelos ao pé do memorial Heróis do Gueto.
Na cor e na forma, os narcisos de papel lembram a estrela amarela de Davi que os judeus europeus foram obrigados a usar pelos nazistas.
Este ano, a tradição se expandiu para outras cidades da Polônia.
450 mil judeus
"Vamos distribuir juntos 450 mil flores de papel. O número simboliza as mulheres e os homens judeus presos no gueto de Varsóvia na época de maior superlotação, a primavera de 1941", disse à imprensa Zofia Bojanczyk, coordenadora do projeto "Narcisos".
Um ano depois de invadir a Polônia em 1939, os nazistas delimitaram uma área em Varsóvia para reunir quase meio milhão de judeus em três quilômetros quadrados.
Tudo isso para exterminá-los com fome e doenças, e deportar mais de 300 mil para as câmaras de gás do campo de Treblinka, 80 quilômetros ao leste da capital polonesa.
O gueto de Varsóvia tornou-se o mais importante de todos durante a Segunda Guerra Mundial. Cerca de 50 mil civis ainda estavam escondidos em porões e bunkers no início da rebelião.
Os alemães acabaram reprimindo a revolta violentamente e incendiaram o bairro, que ficou reduzido a um campo de ruínas. Quase 7 mil pessoas morreram durante os combates e outras 6 mil morreram nos incêndios. Os sobreviventes foram enviados para os campos de concentração.
Vozes de "uma cidade enterrada"
Por ocasião do aniversário estão previstos encontros com sobreviventes, shows, exibições de filmes e apresentações teatrais.
Na galeria Kordegarda, uma coleção de objetos do cotidiano mostra como os judeus de Varsóvia viveram, amaram e morreram durante a guerra.
"São as vozes de uma cidade enterrada, ressoando sob nossos pés", disse à AFP Jacek Konik, curador adjunto da exposição.
Imagens do gueto recentemente descobertas, feitas por um bombeiro polonês, integrarão uma exposição no museu Polin, dedicada à história dos judeus poloneses. Um testemunho valioso, já que até agora a maioria das fotos foi tirada pelos nazistas e representava o gueto judeu pelos olhos dos alemães.
As celebrações deste ano devem destacar o ponto de vista dos civis e, em particular, das mulheres.