"A Morte do Demônio: A Ascensão" estreia nos cinemas nesta quinta-feira (20); confira a crítica
Divertidamente repulsivo, longa honra seu espaço na consagrada franquia de terror de Sam Raimi
No primeiro momento, a cena inicial de “A Morte do Demônio: A Ascensão”, lançamento desta quinta-feira (20) nos cinemas brasileiros, pode parecer desconexa demais do resto da trama para ser justificada, mas na verdade ela diz tudo o que o público deve saber sobre o filme que irão assistir.
Ambientada numa cabana, cenário imortalizado pela franquia como o limbo ideal do gênero, e referenciando a câmera “ponto de vista” do espírito demoníaco e entregando mortes brutais gratuitas apenas para voltar 24h no tempo e contar uma história desconexa em outro cenário, a abertura comunica que está mais próxima do original de 1981 do que de seu reboot de 2013, mas que ainda assim andará com as próprias pernas.
E esse talvez seja o principal mérito do diretor Lee Cronin: modernizar o tom, a audácia e a criatividade repulsiva que consagraram a franquia de Sam Raimi nos anos 1980, mas a uma distância segura o bastante para contar sua própria história sem depender da nostalgia barata típica de revitalizações que prometem ser mais 'enraizadas' aos originais. Retroativamente, a abordagem melhora ainda mais a disrupção do uruguaio Fede Alvarez em 2013, que mostrou o potencial da série caso levada a sério, mas funciona melhor como uma experiência distinta.
Sem Ash (personagem de Bruce Campbell na trilogia original) à vista, “Ascensão” dá início a uma nova era da franquia, trazendo o que parece a história de origem de uma nova heroína de ação. A trama segue o núcleo familiar de Ellie (Alyssa Sutherland), superando um divórcio e vivendo em um apartamento à beira da demolição, e sua irmã Beth (Lily Sullivan), técnica de guitarra que vive na estrada e decide visitar a irmã após descobrir uma gravidez. Quando um terremoto atinge a área e revela uma seção escondida do prédio, Danny (Morgan Davis), filho de Ellie, encontra o Livro dos Mortos, junto de uma série de discos de vinil que decifram seus conteúdos, e libera o terror ao mundo mais uma vez.
A violência acontece majoritariamente entre o apartamento da família e o corredor do andar, sendo ainda mais claustrofóbico do que uma cabana na floresta, e o grupo de amigos jovens adultos é substituído por uma família com crianças e alguns vizinhos, criando uma dinâmica curiosa para um subgênero tão violento como o slasher, mas que pouco compensa pelo quão desinteressante são os personagens e o quão pouco apego (ou desdém) temos por eles.
A exceção fica com as protagonistas. A atuação de Sutherland como a mãe possuída a torna uma presença genuinamente ameaçadora, especialmente quando se aproveita do humor. Já Sullivan, apesar de não entregar uma performance tão intensa, convence como a final girl com instinto materno aos moldes de Sarah Connor (da franquia “Exterminador do Futuro”).
Banho de sangue e vômito
“Ascensão” não assusta, muito menos dá medo. Ele não perde tempo sendo sutil, preferindo brincar com a brutalidade e a violência gráfica, se aproveitando especialmente de utensílios domésticos para criar sensações arrepiantes, se apoiando no cenário à disposição para criar sequências criativas e tecnicamente interessantes, e impedimentos verossímeis. Aqui, temos até menos desmembramentos e absurdos em relação a outras entradas da série, o que enfatiza o sadismo em algumas das sequências.
A quantidade de sangue jorrado e fluidos regurgitados também pode causar desconforto em algumas pessoas. Personagens vomitam sangue, líquidos pretos, espuma branca, e chegam até a cuspir partes do corpo de outras pessoas. Os efeitos convencem o suficiente para fazer até os mais resistentes virarem o olhar em algum ponto ao longo da minutagem.