Cinema

"Rio Doce" leva para o cinema história ambientada na periferia de Olinda; conheça o filme

Primeiro longa-metragem do diretor Fellipe Fernandes é estrelado por Okado do Canal

Okado do Canal em "Rio Doce" - Divulgação

Chega nesta quinta-feira (20) aos cinemas brasileiros “Rio Doce”, primeiro longa-metragem dirigido por Fellipe Fernandes. O pernambucano, que trabalhou como assistente de direção de cineastas como Kleber Mendonça Filho e Renata Pinheiro, arrebatou logo em sua estreia prêmios de melhor filme no Olhar de Cinema, em Curitiba, e no Festival do Rio.

A produção é um drama familiar que conta a história de Tiago, interpretado pelo rapper Okado do Canal. Morador de periferia e passando por problemas financeiros, o rapaz descobre a identidade do próprio pai, que sempre foi ausente, quando é procurado por uma de suas meio-irmãs após a morte do homem. Essas revelações obrigam o protagonista a lidar com sentimentos há muito tempo guardados.

Segundo Fellipe, o filme nasceu da ideia de retratar a realidade com a qual conviveu desde a infância. “Eu era muito aquele pirraia aficionado em televisão, que passava o dia todo vendo novelas e filmes. Só que eu achava essas histórias todas muito diferentes das que estavam ao meu redor e que eu via acontecer. Quando comecei a trabalhar com cinema, meu desejo foi investigar o caminho das periferias”, explicou o diretor.
 

O argumento do longa foi desenvolvido por Fellipe ainda em 2014. De lá até 2019, quando as filmagens ocorreram, o roteiro foi ganhando novas versões e incorporando outras camadas. “O filme foi evoluindo e, cada vez mais, aprofundando questões sobre masculinidade e noções de paternidade. No meio desse processo de escrita e reescrita, eu acabei me tornando pai. Então, isso mudou um pouco a minha perspectiva”, revelou.

A proposta de batizar o filme com o nome do bairro mais populoso de Olinda, onde parte da trama se desenvolve, só veio com as gravações já iniciadas. “No começo, eu ficava meio reticente de dar esse nome, porque o filme não dá conta de tudo o que o bairro é. Mas quando eu percebi que ele poderia atuar socialmente, agregando outra imagem ao bairro, diferente da que a mídia construiu, foi que entendi a importância disso”, disse.

Fellipe conheceu Okado ao vê-lo em “Rosário”, curta de Igor Travassos e Juliana Soares, e resolveu convidá-lo para um teste.  A vivência pessoal do artista no rap, no hip hop e no break dance foi incorporada ao protagonista. Além disso, vídeo e fotografias reais do rapper - e de outras pessoas do elenco - foram inseridas no processo de montagem do longa.

“Eu estava jogando em casa, né? Na verdade, desde o teste eu comecei a identificar alguns pontos de Tiago que eram bem parecidos comigo. Quanto mais elementos da minha vida pessoal foram sendo inseridos, foi facilitando o processo. Foi complexo sentir as dores do personagem, mas, ao mesmo tempo, foi prazeroso colocar um pouco de mim nele”, afirmou o ator.

Fruto dos projetos sociais realizados na Favela do Canal, na Zona Norte do Recife, Okado quer dividir a visibilidade alcançada com o restante da comunidade onde vive. Com o cachê conquistado por “Rio Doce”, adquiriu um terreno onde pretende construir uma escola de cinema.

“Sempre digo que não sou nem 1% do talento que tem dentro da minha favela. Quero botar esse sonho de pé, não sei se por meio de edital ou crowdfunding, para poder revelar atrizes, atores, roteiristas, diretores, diretores, e exportar para o mundo. Acho que eu só não dou conta de todo esse mundo de cultura que a gente encontra aqui, sabe?”, reflete.