BRASIL

Demissão de Gonçalves Dias dá força a movimento para extinguir GSI e retirar militares do Planalto

Integrantes do governo defendem criação de nova estrutura

gonçalves dias ministro gsi - Divulgação

A demissão do general Gonçalves Dias do comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) deu força a um movimento no governo para extinção do órgão, tradicionalmente comandado por militares. A pasta, que já havia sido esvaziada no início do ano, deverá ser reestruturada a partir de agora e pode perder o status de ministério.

A ideia defendida por integrantes do governo é retirar a maior quantidade possível de militares atualmente lotada no GSI e transformar em uma secretaria. Abaixo dessa nova estrutura, ficariam a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República — responsável pela proteção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice, Geraldo Alckmin, e seus familiares —, além da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que foi deslocada para a Casa Civil.

A mudança, caso tenha o aval de Lula, poderia ser efetivada via medida provisória. Não está definido se a futura estrutura teria ou não status de ministério.

Como mostrou O Globo, a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente, criada em janeiro para atuar até 30 de junho para "desbolsonarizar" o GSI, deve se tornar permanente por ter ganhado respaldo no Palácio do Planalto. Comandado pelo delegado federal Alexsander Olivera, o órgão está formando turmas de polícias e deverá ter até 300 integrantes nos próximos meses, a maior parte deles agentes da Polícia Federal.
 

A transferência da Abin para uma futura secretaria que substitua o GSI tem apoio na Casa Civil. Indicado por Lula para assumir a agência, o delegado Luiz Fernando Côrrea já se reporta direto ao presidente devido a relação de proximidade com Lula. Côrrea foi chefe da PF nos primeiros mandatos do petista.

A criação de uma nova estrutura no lugar do GSI ampliaria a influência da PF no Palácio do Planalto. A proposta de transformar o órgão numa secretaria, nos moldes do que ocorreu no governo de Dilma Rousseff, já havia sido discutida durante a transição, no grupo de trabalho comandando por pelo delegado Andrei Passos Rodrigues, atual diretor-geral da Polícia Federal.

Diante da necessidade de Lula de reduzir resistências entre militares, contudo, a pasta foi mantida, e a solução foi colocar o general Gonçalves Dias, conhecido como GDias, no comando. O militar atuou no comando da segurança pessoal de Lula entre 2003 e 2009. Na época, ficou conhecido como “sombra” do presidente.

Com a saída de Dias, auxiliares de Lula veem oportunidade de retomar o plano e retirar novas levas de militares do Palácio do Planalto. O vazamento do vídeo que mostra a interação de servidores do GSI com invasores reforçou a suspeita de que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro seguem em cargos estratégicos no governo, embora Lula já tenha tirado cerca de 200 militares da ativa de cargos de confiança.

Um dos argumentos de quem defende a mudança é o de que não há nenhum país com tradição democrática que possui estruturas como o GSI dentro do palácio do governo ou cuidando da segurança presidencial. Essa será uma das considerações levadas a Lula para convencê-lo da ideia.

A saída de GDias é também mais um capítulo na queda de braço entre Polícia Federal e o GSI. A disputa teve início durante a transição, quando a PF não permitiu que integrantes do GSI circulassem pela Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) e nem participassem da segurança de Lula, e ganhou força no início do governo. GDias ficou em situação frágil desde a invasão do Palácio do Planalto em 8 de janeiro e passou a perder espaço para a Polícia Federal dentro do Planalto.