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Mudança no GSI divide integrantes do governo

Mudança encontra resistências em ministros que enxergam risco de tensionar a relação do Planalto com as Forças Armadas, em um momento em que o governo busca justamente o contrário

Gonçalves Dias pede demissão do cargo - José Cruz/Agência Brasil

As discussões sobre o futuro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) após a queda do general Gonçalves Dias têm provocado uma divisão no núcleo central do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo que defende a permanência de um militar no comando da pasta é encabeçada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa. Do outro lado, a favor de que o posto deva ser ocupado por um civil, está a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.

A saída de Gonçalves Dias, após a divulgação de imagens dele no Palácio do Planalto em meio a invasores no dia 8 janeiro, deu força a um movimento pela reformulação do órgão. A mudança, no entanto, encontra resistência de ministros que enxergam risco de tensionar a relação do Planalto com as Forças Armadas, em um momento em que o governo busca justamente o contrário. O GSI foi criado em 1938 e sempre teve militares no comando.

Auxiliares próximos acreditam que Lula se mostra hoje mais inclinado a escolher um militar para substituir Gonçalves Dias. Na última quinta-feira, o presidente se reuniu com o general da reserva Marco Antonio Amaro dos Santos, considerado favorito para o posto. Rui Costa participou da conversa.

O ministério da Defesa, José Múcio, é outro que acha que o GSI deve permanecer nas mãos dos militares e já externou essa posição publicamente. Entre os ministros palacianos, Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Paulo Pimenta (Comunicação Social) também consideram que no momento o mais adequado é deixar um integrante da caserna à frente do órgão para evitar tensões.

Já a defesa da desmilitarização tem como um de seus principais entusiastas o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. O ministro da Justiça, Flávio Dino, a quem Andrei está subordinado, também apoia a ideia.

As discussões sobre a reformulação do ministério começaram na transição. Pela desconfiança com militares, Lula decidiu criar a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República, para assumir as funções de proteção do chefe do Executivo, que tradicionalmente ficavam a cargo do GSI. A nova estrutura, formada predominantemente por policiais federais, atuaria até 30 de junho, enquanto o governo conclui a “desbolsonarização” do Gabinete de Segurança Institucional.

Nos últimos dias, o delegado federal Alexsander Castro de Oliveira, que comanda a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata e foi indicado por Andrei, passou a articular dentro do Palácio do Planalto a indicação de um civil para substituir Gonçalves Dias. O delegado buscou o apoio de Janja para levar a ideia adiante.

A primeira-dama não tem confiança nos militares e prefere não ter fardados na equipe que faz sua escolta. Oliveira se aproximou de Lula durante a campanha eleitoral — era um dos delegados que coordenava a equipe de segurança — e atualmente está ao lado do presidente em todos seus compromissos. Auxiliares do presidente, afirmam que embora o delegado não ocupe cargo de primeiro escalão no governo, já possui certa liberdade entre o núcleo próximo a Lula.

No mesmo dia da saída de Gonçalves Dias do GSI na semana passada, o governo anunciou que o jornalista Ricardo Cappelli comandaria a pasta de forma interina. Segundo o próprio, o presidente pediu que ele despolitizasse o órgão. Lula deve definir o futuro do ministério ainda esta semana, quando voltar da viagem à Europa.