rio de janeiro

Prontuários de passista que teve braço amputado, no Rio, já foram enviados para o IML, diz delegado

Documentos foram obtidos nos hospitais pelos quais Alessandra dos Santos Silva passou

Hospital da Mulher Heloneida Studart - Reprodução/Tv Globo

O delegado Bruno Enrique de Abreu Menezes, titular da 64ª DP (São João de Meriti) disse, nesta quarta-feira (26), que cópias dos prontuários do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e do Instituto estadual de Cardiologia Aloyzio de Castro, no Humaitá, Zona Sul do Rio, referentes aos procedimentos feitos na passista da Grande Rio Alessandra dos Santos Silva, de 35 anos, já foram enviados para o Instituto Médico-Legal (IML). Ela teve parte do braço esquerdo amputado após uma complicação resultante de uma cirurgia para a retirada de um mioma, que também resultou na retirada total do útero. Os documentos serão analisados por peritos. A informação é do Bom Dia Rio, da TV Globo.

O primeiro cirurgião que operou Alessandra prestou depoimento nesta terça-feira. Gustavo Machado foi ouvido foi ouvido na condição de testemunha e negou qualquer negligência no Hospital da Mulher. Segundo ele, a passista teve um problema vascular que levou à retirada de seu útero. O cirurgião afirmou ainda que a decisão de amputar parte do braço de Alessandra foi tomada no Instituto Aloysio de Castro.

A passista fez a operação para a retirada do mioma no dia 3 de fevereiro deste ano, após seis meses de espera desde a detecção da necessidade de cirurgia. No fim do mesmo dia, uma hemorragia foi detectada e a equipe médica avisa da necessidade de nova operação, desta vez para uma histerectomia total (retira completa do útero). Os procedimentos foram explicados pelo cirurgião em depoimento.

"Ele (o médico) está explicando o procedimento médico, como foi feita a cirurgia. Da cirurgia da retirada do mioma agravou para uma histerectomia, e teve que retirar o útero da paciente. O pós-operatório teve um agravamento na parte vascular. Identificado o problema vascular, foi encaminhada para o hospital com a especialidade nesse caso, e nesse segundo hospital é que foi feito o procedimento de retirada do membro. Então, ele não tem como explicar o porquê. A gente vai ouvir o médico do segundo hospital, para entender qual foi o quadro clínico com que ela chegou e como ele decidiu a amputação do membro" disse o delegado da 64ª DP em entrevista ao RJTV

Segundo Menezes, ainda é cedo para concluir se houve imprudência ou negligência.

Além das duas unidades da rede estadual, Alessandra permaneceu um por um mês, de 4 de março a 4 de abril, no Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, para tratar de uma infecção na barriga, segundo disse, resultado o primeiro atendimento no hospital da Baixada. Ontem retornou à unidade para consulta de revisão e retirada dos pontos. A passista, que tem 1,83m de altura, está andando curvada e com dificuldade.

Confira a íntegra da nota do Estado
A paciente Alessandra dos Santos Silva teve seu primeiro atendimento na emergência do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart em 21/07/2020, sendo realizada ultrassonografia, que constatou quadro de miomatose uterina múltipla. Ela foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial.

Em novembro de 2022, ela retornou ao ambulatório de ginecologia do hospital, sendo indicada cirurgia para retirada de 17 miomas. Em dezembro, a paciente passou por consulta e exames para risco cirúrgico. Ela teve que realizar uma transfusão sanguínea devido ao quadro de anemia gerada pela miomatose.

Em 2 de fevereiro de 2023, a paciente é internada para cirurgia, sendo necessária a realização de nova transfusão sanguínea pré-operatória. A equipe médica esclareceu sobre a complexidade do procedimento e ela assinou termo de consentimento para a cirurgia.

Em 3 de fevereiro, às 14h, ela foi submetida à cirurgia para retirada dos 17 miomas, com preservação do útero, ovários e trompas, numa tentativa de respeitar seu desejo de engravidar.

Às 00h10 do dia 4, Alessandra começou a apresentar complicações clínicas que levaram a um novo procedimento cirúrgico para conter sangramento no local da cirurgia. A paciente foi então submetida à histerectomia (retirada do útero). Após o procedimento, ela foi encaminhada ao UTI para continuidade do tratamento do choque hemorrágico, sendo administradas altas doses de aminas vasoativas, que provocam o estreitamento dos vasos sanguíneos para manter a pressão arterial. Um dos possíveis efeitos adversos desta medicação é a oclusão vaso arterial, que leva à redução do fluxo sanguíneo, podendo levar à necrose das extremidades do corpo.

Em função da piora clínica do quadro, com hipotensão grave, às 14h do mesmo dia, Alessandra retorna ao centro cirúrgico, sendo submetida ao terceiro procedimento para investigação de possível novo sangramento. Ela retorna à UTI em estado grave.

No dia 5 de fevereiro de 2023, foi observado que as extremidades do corpo de Alessandra estavam frias e arroxeadas. A equipe enfaixou os membros da paciente para melhorar a circulação sanguínea. Foi realizado doppler, que constatou obstrução arterial no braço esquerdo.

Constatando a obstrução de artérias do antebraço esquerdo, a paciente foi estabilizada e transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC), centro de referência em cirurgias cardiológicas e vasculares. A gravidade do quadro de saúde e a necessidade de transferência foram informadas aos familiares.

Em 6 de fevereiro de 2023, a paciente foi submetida ao quarto procedimento cirúrgico para desobstrução das artérias. Permaneceu internada no CTI em estado grave, tendo evoluído para insuficiência hepática e renal e distúrbio de coagulação grave.

No dia 10 de fevereiro, permanecendo em estado grave e sedada, a família foi informada sobre a necessidade da amputação parcial do membro superior esquerdo a fim de preservar a vida de Alessandra. Seus pais assinaram termo de consentimento para esse procedimento cirúrgico.

Foi então submetida à quinta cirurgia, para amputação parcial do membro superior esquerdo. Seguiu em acompanhamento na CTI, com melhora progressiva até a alta hospitalar em 16 de fevereiro. Na mesma data, ela foi orientada e seus pais contatados para retornar para acompanhamento no ambulatório de ginecologia no Hospital da Mulher.

A Fundação Saúde se solidariza com a paciente e sua família e ressalta que Alessandra foi atendida durante todo seu período de internação por especialistas e tendo acesso aos tratamentos e medicamentos necessários para a preservação da sua vida.

A Fundação instaurou sindicância para apurar toda a conduta médica e administrativa nas duas unidades de saúde.

Cronologia do pesadelo
Agosto de 2022: Alessandra descobre miomas no útero, e médico indica cirurgia

30 de janeiro: Passista recebe ligação do Heloneida Studart marcando a operação

3 de fevereiro: Alessandra é operada de manhã. À noite, uma hemorragia é detectada

4 de fevereiro: Hospital avisa que fará histerectomia total, ou seja, a retirada completa do útero

5 de fevereiro: Passista é intubada e está com pontas dos dedos escuras e pernas e braços enfaixados

6 de fevereiro: Transferência para o Instituto Aloysio de Castro, onde médicos falam do risco de necrose no braço

10 de fevereiro: Médicos explicam que, se braço não for amputado, Alessandra morre. Família autoriza

15 de fevereiro: Passista recebe alta

4 de março: Internação no Hospital Fernando Magalhães e transferência para o Souza Aguiar

4 de abril: Alessandra recebe alta