"Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe" estreia nesta quinta-feira (27) nos cinemas; leia a crítica
Nicolas Cage carrega todo o charme e humor do longa com interpretação exagerada no papel de Conde Drácula
Desde o início de sua divulgação, "Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe" chamava mais a atenção pelos absurdos dos seus trailers sangrentos e pela abordagem cômica de personagens clássicos do que pelo seu potencial como obra. Mas o que realmente atiçou a curiosidade de muitos em relação ao longa foi a chance de ver Nicolas Cage, conhecido por interpretações exageradas e papéis infames escolhidos a dedo por ele mesmo, viver o Drácula. Ainda assim, é uma pena que, ao chegar nos cinemas nesta quinta-feira (27), o filme só mate a curiosidade.
A premissa da trama é diferente o bastante para gerar interesse não apenas do público, mas de seus astros. Nicholas Hoult vive Renfield, 'assistente faz-tudo' do Drácula (Nicolas Cage), cansado de viver em servidão e matando inocentes como gado. Quando os dois se mudam para Nova Orleans nos dias atuais, Renfield entra numa jornada em busca de amor próprio e libertação de seu relacionamento abusivo, mas acaba envolvido no submundo do crime quando decide matar apenas bandidos para alimentar o vampiro.
Enquanto o filme foca em Renfield, ele funciona bem. Hoult convence como o serial killer imortal de bom coração, cheio de arrependimentos e amarras, e toda a jornada em busca de um escape da relação tóxica é igualmente tocante e divertida graças ao contexto absurdo, e o texto genuinamente parece querer conscientizar sobre o tema, apontando com humor as "red flags" do Drácula em sua dinâmica com o servo.
O Drácula de Nicolas Cage, inclusive, é indiscutivelmente o ponto alto do filme, entregando uma releitura queer do vampiro de Bela Lugosi à la "O Que Fazemos nas Sombras", de Taika Waititi, somado a uma estética exageradamente demoníaca quando comparado às adaptações anteriores. Aliado a um roteiro que sabe brincar com elementos da mitologia do personagem, Cage se encontra armado até os (muitos) dentes para roubar os holofotes com todas as suas caras, bocas e trejeitos. Talvez, o maior pecado da obra seja justamente Cage precisar roubar a cena, e não tê-las para si desde o início.
Se a produção fosse inteiramente uma comédia romântica de horror focada na dinâmica entre Renfield e Drácula, tanto teria se destacado mais por sua distinção, quanto ressaltaria os seus pontos positivos em detrimento dos negativos, representados majoritariamente pela policial Rebecca Quincy (Awkwafina). Não que a personagem em si seja um problema, mas o longa dedica tempo demais à trama secundária genérica focada na jornada de vingança dela contra a família criminosa da cidade por terem matado o seu pai. Mesmo o pouco de drama familiar que contribui para o arco de Renfield acaba não tendo uma conclusão satisfatória o bastante para torná-lo menos desinteressante.
Outro problema narrativo, por vezes enrolando com a sub-trama de Quincy, é a necessidade do longa em transformar Renfield em um super-herói. Isso precede a introdução da policial, mas acaba se tornando intrínseco na relação dela com o servo do Drácula, e parece ser a saída encontrada pela produção para criar cenas de ação - que até rendem bons momentos, mas não o bastante para justificar o desvio na história, ainda mais quando elas são brutais demais para qualquer herói convencional.
"Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe" diverte em sua tosquice e absurdo, mas desperdiça seu potencial e seu elenco sem saber se quer ser uma comédia romântica, um filme da Marvel ou um 'terrir' violento ao estilo de "Uma Noite Alucinante" ("Evil Dead"), se perdendo no meio do caminho.