EUA

"Donald Trump me estuprou", afirma escritora em julgamento

No segundo dia do julgamento no Tribunal Federal de Manhattan, a ex-colunista da revista "Elle", 79 anos, diante dos nove membros anônimos do júri

A escritora E. Jean Carroll chega quando a seleção do júri está marcada para começar no caso de difamação contra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump movido por Carroll, que o acusou de estuprá-la na década de 1990, no Tribunal Federal de Manha - Timothy A. Clary / AFP

"Estou aqui porque Donald Trump me estuprou", afirmou a escritora e ex-jornalista E. Jean Carroll nesta quarta-feira (26), durante um julgamento civil em Nova York no qual ela busca uma indenização por perdas e danos.

No segundo dia do julgamento no Tribunal Federal de Manhattan, a ex-colunista da revista "Elle", 79 anos, falou de forma calma, mas séria, diante dos nove membros anônimos do júri - seis homens e três mulheres - que deverão determinar se os supostos fatos, que o ex-presidente nega, são passíveis de reparação.

"Estou aqui para retomar minha vida", disse Carroll. A escritora alega que o republicano, que está em campanha para concorrer novamente à Casa Branca nas eleições de 2024, agrediu-a sexualmente em um provador de uma loja de luxo da Quinta Avenida de Nova York na década de 1990.

Quando Carroll escreveu sobre o assunto no livro "What Do We Need Men For", lançado em 2019, o então presidente (2017-2021) "disse que não havia acontecido. Mentiu e destruiu minha reputação", afirmou.

Por mais de uma hora, a escritora descreveu uma "cena nova-iorquina divertida": o encontro casual com o magnata na entrada da loja de departamentos. Mas as brincadeiras na seção de lingerie feminina do sexto andar se transformaram em um pesadelo no provador.

Segundo seu relato, o então empresário e celebridade, hoje com 76 anos, reconheceu-a porque ela escrevia uma coluna na revista Elle, "Ask E. Jean" (Pergunte a E. Jean), e a convidou em tom amistoso para ajudá-lo a escolher um presente.

O tom era "muito brincalhão". Na seção de lingerie, Trump escolheu um body. Carroll ainda não entende, mais de 25 anos depois, como pôde segui-lo até o provador.

Vergonha
"Ele me empurrou contra a parede. Eu continuei rindo, não tinha certeza. Não queria fazer uma cena", contou. Mas, imediatamente depois, ele "introduziu" seus dedos em sua vagina - "foi muito doloroso, sentada aqui ainda consigo sentir" - e, depois, seu pênis. Tudo durou "pouquíssimos minutos", detalhou.

"Ele me impediu de ter uma vida amorosa novamente", confessou a escritora. Ao ser perguntada por seu advogado Mike Ferrara se havia voltado a ter relações sexuais desde que sofreu abuso, aos 52 anos, ela respondeu que não.

A escritora "tinha medo de Donald Trump" e "vergonha". “Achava que tivesse sido por minha culpa”, disse.

A princípio, Trump não é esperado no julgamento, que pode durar uma ou duas semanas. Carroll iria ser interrogada por seus advogados.

Joe Tacopina, um dos advogados de defesa do magnata, afirmou ontem que a ex-jornalista "abusa do sistema por dinheiro, razões políticas e status".

Inicialmente, Carroll processou Trump por difamação em 2019, mas não pôde incluir a acusação de estupro porque já havia expirado o prazo para apresentá-la.

Porém, em 24 de novembro de 2022, uma nova lei entrou em vigor em Nova York, a "Adult Survivors Act", que permite, durante um ano, que vítimas de ataques sexuais apresentem ações na esfera civil.

Com base nesta lei, os advogados de Carroll apresentaram, então, uma nova ação na qual acusam Trump de "apalpá-la, tocá-la e estuprá-la".

No começo do mês, Trump foi acusado criminalmente por 34 crimes, pelo suposto pagamento oculto, em dinheiro, para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, na reta final da campanha às eleições presidenciais de 2016, sobre um suposto relacionamento que teriam tido uma década antes, o que ele sempre negou.

O republicano também é investigado por tentar reverter sua derrota nas eleições de 2020 no estado da Geórgia (sul), por uma suposta má gestão de documentos oficiais retirados da Casa Branca e pelo possível envolvimento no ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021.