Sudão

Combates se intensificam no Sudão apesar da trégua

Até agora, as milícias das Forças de Apoio Rápido (FAR) não se pronunciaram sobre o assunto

Uma barricada de sacos de areia é montada perto de uma trincheira ao longo de uma rua em Cartum enquanto a luta continua entre o exército do Sudão e as forças paramilitares - AFP

Os combates entre o Exército do Sudão e os paramilitares se intensificaram nesta quinta-feira (27) na capital, Cartum, e na região de Darfur, apesar do cessar-fogo de três dias que termina na sexta-feira e que, segundo os militares, será prolongado por mais três.

Pouco antes do fim do cessar-fogo, à meia-noite desta quinta-feira no horário local (19h00 de Brasília), o Exército anunciou a sua "prorrogação por mais 72 horas" em resposta a "uma iniciativa da Arábia Saudita e dos Estados Unidos".

Até agora, as milícias das Forças de Apoio Rápido (FAR) não se pronunciaram sobre o assunto.

O Exército havia indicado na noite de quarta-feira que havia concordado em enviar um representante a Juba, capital do Sudão do Sul, para discutir com os paramilitares uma possível extensão da trégua.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse na quinta-feira que trabalha "ativamente" para prorrogar o cessar-fogo.

O cessar-fogo permitiu a evacuação de milhares de estrangeiros e sudaneses, apesar de não ter interrompido os combates, iniciados em 15 de abril.

Aviões militares cruzaram nesta quinta o céu dos subúrbios ao norte da capital e os combates com metralhadoras e armamento pesado continuaram, informaram testemunhas à AFP.

"Ouvi bombardeios intensos do lado de fora da minha casa", disse um morador da capital sudanesa nesta quinta-feira.

O conflito envolve as tropas do general Abdel Fatah al Burhan - que preside o país - e os paramilitares liderados pelo general Mohamed Hamdan Daglo.

De acordo com o Ministério da Saúde do Sudão, ao menos 512 pessoas morreram e 4.193 ficaram feridas em treze dias, mas o balanço real provavelmente é mais elevado.

Além da capital, a violência arrasa outras regiões do país, em particular na zona oeste de Darfur.

Na capital desta região, El Geneina, foram registrados saques, assassinatos e incêndios em casas, segundo a ONU. A área foi cenário de uma guerra extremamente violenta na década de 2000.

A Organização das Nações Unidas, que interrompeu suas operações após a morte de cinco trabalhadores humanitários, advertiu que não pode mais prestar auxílio em uma área onde "50.000 crianças sofrem de desnutrição grave".

Êxodo maciço
Os combates provocaram uma fuga em massa e agravaram a crise em uma das nações mais pobres do mundo, que tem mais 45 milhões de habitantes.

Mais de 14 mil sudaneses e 2 mil cidadãos de outros países chegaram ao Egito desde o início dos combates, informou o Ministério das Relações Exteriores egípcio nesta quinta-feira.

Nos últimos dias, governos estrangeiros organizaram operações terrestres, aéreas e marítimas para evacuar milhares de seus cidadãos.

As pessoas que permanecem no país enfrentam escassez de alimentos, falta d'água e de energia elétrica, além de cortes nas linhas de telefonia e de internet.

De acordo com o sindicato dos médicos, 14 hospitais foram bombardeados e outros 19 foram esvaziados por falta de material e funcionários ou porque os combatentes assumiram o controle de áreas próximas.

Em meio ao cenário de caos, centenas de detentos fugiram de três prisões, incluindo o presídio de segurança máxima de Kober, onde estavam presos ex-funcionários de alto escalão do regime deposto de Omar al Bashir.

Entre os foragidos está um integrante do antigo governo que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), acusado de crimes contra a humanidade.

Al Bashir, 79 anos, também estava na prisão, mas o Exército anunciou na quarta-feira que ele foi transferido para um hospital militar antes do início dos combates "devido à sua condição de saúde". A data da transferência não foi divulgada.

Al Bashir foi deposto pelo Exército em abril de 2019, após grande pressão popular.

Os dois generais que protagonizam o atual conflito acabaram com as expectativas de uma transição para a democracia quando se aliaram, em 2021, para tirar os civis do poder.

Porém, Burhan e Daglo entraram eles próprios em conflito por suas divergências sobre a integração dos paramilitares ao Exército oficial.