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Papa Francisco inicia visita de três dias à Hungria

O pontífice argentino e o primeiro-ministro húngaro distoam em temas como migração e guerra na Ucrânia

Papa Francisco inicia visita de três dias à Hungria - Luca Zennaro / POOL / AFP

O papa Francisco desembarcou nesta sexta-feira (28) na Hungria para uma visita delicada de três dias, durante a qual se reunirá com o primeiro-ministro ultranacionalista Viktor Orbán sobre a guerra na Ucrânia e o drama da migração na Europa.

O pontífice argentino, de 86 anos, saiu de Roma às 8H00 (3H00 de Brasília) e o avião pousou um pouco antes das 10H00 (5H00 de Brasília) em Budapeste, cidade em que permanecerá durante toda a estadia devido a seu frágil estado de saúde.

Pouco depois de chegar ao país, Francisco fez o primeiro discurso, no qual criticou o "triste ocaso do sonho coral de paz, enquanto os solistas da guerra se impõem".

Diante do primeiro-ministro ultranacionalista Viktor Orbán, o pontífice fez um apelo a favor da recuperação do espírito de paz europeu e pediu o abandono dos interesses próprios.

"É essencial voltar a encontrar a alma europeia: o entusiasmo e o sonho dos pais fundadores, estadistas que souberam olhar além do próprio tempo, das fronteiras nacionais e das necessidades imediatas, gerando diplomacias capazes de recompor a unidade", destacou.

A política internacional atual, lamentou, está "retrocedendo a uma espécie de infantilismo bélico".

A guerra na Ucrânia e o drama da migração na Europa serão os principais temas da visita de Francisco ao país, de 9,7 milhões de habitantes.

"Colonizações ideológicas"

Ao contrário dos países vizinhos, o governo da Hungria - país que faz fronteira com a Ucrânia - atua para manter os vínculos com Moscou e evita criticar o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Também se recusa a enviar armas à Ucrânia.

O papa, no entanto, já condenou sem hesitar o que já chamou de "guerra cruel" na ex-república soviética, embora a Santa Sé atue para manter o diálogo com Moscou.

Antes do discurso, o pontífice conversou com Orbán durante 20 minutos a portas fechadas.

Para o chefe de Governo húngaro, de 59 anos, a visita de Francisco é um sucesso diplomático.

Orbán, de origem calvinista, defende uma "Europa cristã" e, segundo a agência de notícias MTI, ressaltou durante o encontro com o papa que o cristianismo é um "vetor de paz".

Na Hungria, que tem 39% de católicos, de acordo com dados de 2011, tanto Orbán quanto seus simpatizantes tentam destacar os pontos em comum com o líder da Igreja Católica.

Em seu discurso, Francisco elogiou os valores cristãos tradicionais implementados pelo governo húngaro, como as "políticas efetivas para a natalidade e a família".

Porém, ao mesmo tempo, criticou as "colonizações ideológicas que eliminam as diferenças", como a "denominada cultura da ideologia de gênero", e criticou aqueles que defendem um "insensato 'direito ao aborto'".

"Abertura aos demais"

Jorge Bergoglio recordou a responsabilidade da Hungria com os migrantes e insistiu na "necessidade de abertura aos demais".

"Os valores cristãos não podem ser testemunhados com rigidez e repúdios", alertou.

A Hungria é muito criticada por ter erguido cercas em suas fronteiras e restringir a possibilidade de pedido de asilo em suas embaixadas no exterior.

O papa, ao contrário, é um fervoroso defensor dos direitos dos refugiados e pede uma divisão justa entre os países da União Europeia.

À tarde, o sumo pontífice se dirigiu ao clero húngaro na basílica de Santo Estêvão, diante da qual instalaram telões e cadeiras.

Diante da "difusão do secularismo", advertiu sacerdotes, diáconos e religiosos contra a tentação "de se tornarem rígidos, de se fecharem e de adotarem uma atitude de combatentes".

"Tais realidades podem representar oportunidades para nós, cristãos, porque estimulam a fé e o aprofundamento de alguns temas", acrescentou.

Diante dos desafios diplomáticos dessa visita tão esperada, Francisco se apresentou como "amigo e irmão de todos".

A agenda da 41ª viagem internacional do pontífice também inclui um encontro no sábado com refugiados ucranianos, aos quais deve reiterar sua posição a favor da paz, apesar do fracasso até o momento das iniciativas de mediação da Santa Sé.

O líder da Igreja Católica esteve, em 2021, por durante sete horas em Budapeste, uma visita relâmpago durante a qual pediu aos húngaros para abrir suas portas aos migrantes.