Alta mais forte dos serviços é boa para o PIB, mas pode ser ruim para queda nos juros, entenda
Segundo o presidente do Banco Central, inflação de serviços é uma das preocupações do Copom
O IBC-Br, índice que é considerado uma prévia do PIB, registrou alta de 3,32% em fevereiro, o melhor resultado desde junho de 2020. O dado positivo fez com que alguns bancos e consultorias revisassem para cima as projeções de crescimento econômico no primeiro trimestre e até no ano fechado. Porém esse mesmo resultado pode se refletir em mais aperto monetário.
Isso porque o crescimento mais forte da economia teve influência do setor de serviços, que está sendo analisado com lupa pelo Banco Central. Em recentes aparições públicas, o chefe da autarquia, Roberto Campos Neto, vem dizendo que a batalha contra a inflação não foi vencida e que o BC vai continuar sendo "persistente".
Na avaliação do BC, o chamado núcleo de inflação - que verifica a tendência dos preços desconsiderando choques temporários - ainda estaria muito resiliente. Nesse cenário, está a inflação de demanda em serviços, que não vem apresentando redução significativa.
— O nosso diagnóstico é que não é uma inflação de oferta. E, por tanto, precisa do trabalho que está sendo feito — disse Campos Neto, em sessão do Senado na última quinta-feira.
A economia brasileira gerou 195,1 mil postos de trabalho com carteira assinada em março, um aumento de 97,6% em relação ao mesmo mês de 2022. Desse total, 122,3 mil postos de trabalho foram para o setor de serviços.
A variação de 0,57% do IPCA-15 em abril, divulgada na última quarta-feira, aponta um processo de desinflação lenta no país, com preços dos serviços ainda resistentes, diz o economista Mauro Rochlin, da FGV.
— O IPCA 15, o setor de serviços puxa o índice para cima. Ainda há uma demanda relativamente aquecida para serviços. O IPCA 15 nos mostrou isso. E agora o IBC-Br reforça o fato de que o setor de serviços ainda puxa crescimento. Podemos considerar tanto que o setor se mantém com algum dinamismo, quanto empurra pra cima os números de inflação, e consequentemente impacta na decisão sobre juros. O Copom sempre olha para um núcleo de inflação — diz.
O IBC-Br é referência pelo o BC para definir a taxa básica de juros do país - que está em 13,75% desde agosto de 2022. Um menor pressão no setor de serviços abriria margem à eventual redução do juros.