COVID-19

Vacina bivalente: existe melhor hora do dia para tomar o imunizante? Cientistas dizem que sim

Especialmente para aqueles com menos de 20 anos, e mais de 50, eficácia foi superior quando a aplicação da dose ocorreu por volta de 12h

Vacina - Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Nesta semana, o Ministério da Saúde ampliou o reforço com a dose bivalente das vacinas da Covid-19 para toda a população acima de 18 anos. A maioria dos postos de saúde no Brasil permanece aberta entre 8h e 17h, horário em que os adultos podem atualizar a caderneta e a proteção contra o coronavírus. Mas existe uma hora específica em que se vacinar pode gerar uma resposta imunológica melhor?

 

É o que se questionavam pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Para descobrir a resposta, eles conduziram um estudo, recém-publicado na revista científica The Journal of Clinical Investigation, que analisou dados de 1,5 milhão de pessoas acima de 12 anos que se vacinaram contra a Covid-19 em Israel. E o resultado mostrou que sim, existe um horário do dia que induz uma imunidade ligeiramente maior.

Eles observaram que a eficácia da vacina teve um aumento que variou entre 8,6% e 25%, a depender da idade, quando recebida entre 10h e 14h, mais especificamente por volta de 12h. Esse benefício foi mais alto entre crianças e adolescentes, menores de 20 anos, e adultos com mais de 50 anos. Além disso, identificaram que idosos e pessoas imunocomprometidas que se imunizaram depois das 16h tiveram uma incidência levemente maior de hospitalizações.

“Esse tipo de informação pode ser crítica durante uma campanha de vacinação em massa, porque se você puder atingir grupos prioritários – como jovens e idosos, que nossos dados sugerem que se beneficiarão mais com as vacinas da Covid-19 ao meio-dia – e vaciná-los durante horários ideais do dia, deve criar um benefício social significativo na redução de infecções por surtos”, defende o autor sênior do estudo Jeffrey A. Haspel, professor na divisão de Medicina Pulmonar e Cuidados Intensivos da universidade, em comunicado.

O trabalho foi conduzido com as doses da Covid-19, mas Haspel acredita que a tendência de horários é a mesma para outras vacinas. Isso porque os pesquisadores estimam que a causa dessas diferenças é o papel do ritmo circadiano, mudanças pelas quais os corpos passam durante em um período de 24 horas.

“Nossos dados são específicos para a vacinação contra a Covid-19, mas existem alguns pequenos estudos que também sugerem que a vacinação contra Influenza (gripe) pode ser mais eficaz no início do dia. Como essas tendências acompanham um fenômeno biológico básico, é possível que esse padrão reflita as vacinações em geral. Mas precisamos de mais pesquisas para confirmar isso”, diz o especialista.

Os cientistas citam que outros trabalhos, incluindo pesquisas na própria universidade, demonstram como o chamado relógio biológico regula a produção de algumas substâncias do corpo, aumentando e diminuindo o ritmo ao longo do dia. Além disso, que uma série de componentes que fazem parte do sistema imunológico, como a resposta inflamatória do corpo e o movimento das células imunológicas, também seguem as mudanças desse padrão.

“Este estudo observacional não pode demonstrar se algum desses ritmos específicos do sistema imunológico é responsável pelo ciclo que vemos na eficácia da vacina, mas estamos muito interessados em investigar mais essas questões”, explica Haspel.