Após debelar crise no governo por presença na Agrishow, Bolsonaro é recebido em Ribeirão Preto
Centenas de pessoas se reuniram na entrada do aeroporto para aguardar o ex-presidente. Ida para feira agropecuária gerou 'desconvite' a ministro de Lula e cancelamento de cerimônia de abertura
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou no início da tarde deste domingo em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para participar da Agrishow, um dos maiores eventos agropecuários do país. A ida do ex-presidente gerou uma crise que culminou no cancelamento da cerimônia de abertura na noite de sábado.
Aguardado por centenas de pessoas nos arredores do aeroporto da cidade, com gritos similares a sua campanha desde antes da eleição, Bolsonaro foi recebido por parlamentares do PL, como os deputados federais Mario Frias, Ricardo Salles, Paulo Bilynsky, além do deputado estadual Gil Diniz. O policiamento no local foi reforçado por policiais militares.
O ex-presidente desembarcou em Ribeirão Preto por volta das 14h. Nas imagens das lives transmitidas no local, Bolsonaro aparece de camisa e parece estar de colete à prova de balas. Bolsonaro logo subiu em uma caminhonete e seguiu numa carreata pela cidade.
Antes da chegada a Ribeirão, o ex-ministro do Turismo Gilson Machado publicou em seu perfil no Instagram uma selfie do ex-presidente dentro do avião. "Presidente à caminho da Agrishow em Ribeirão Preto. Detalhe: em avião de carreira! Os melhores números para todo o Agro foi durante a nossa gestão", publicou Machado, que desde o fim do governo Bolsonaro acompanha o ex-presidente em todas as viagens.
O deputado estadual paulista Gil Diniz (PL) publicou um vídeo em que um suposto produtor rural conclama o agronegócio da região a comparecer na Agrishow nesta segunda-feira. "Apoio incondicional ao presidente. Amanhã vamos lotar a feira, vamos andar com ele na feira, nos estandes. O produtor rural está fechado com o presidente Jair Messias Bolsonaro", afirma o suposto produtor, que não tem o nome divulgado.
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A organização da Agrishow emitiu o comunicado afirmando que a decisão de cancelar a cerimônia de abertura se deu "em virtude de toda a repercussão gerada", sem citar Bolsonaro ou o atual governo. O texto reforça que a organização "mantém sua tradição" de ser "vitrine" para o que há de moderno em tecnologia para o agronegócio, e reforçou o convite aos visitantes.
Durante a semana, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro afirmar ter sido "desconvidado" da cerimônia após Bolsonaro ter confirmado presença. Na sexta-feira, o governo disse que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio da Agrishow. Em declaração ao blog da jornalista Andréia Sadi, do g1, Fávaro disse que a organização do evento "não desceu do palanque" e queria constrangê-lo ao mudar sua apresentação para que ocorresse após a participação do ex-presidente.
Neste domingo, após o anúncio da Agrishow, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, declarou que Bolsonaro "continua bagunçando o coreto e atrapalhando o país". Nas redes bolsonaristas, o discurso adotado é de que o governo estaria "se vingando" do agronegócio ao cancelar o patrocínio.
O anúncio da ida de Bolsonaro começou a circular em perfis de bolsonaristas. Em um vídeo divulgado em grupos de WhatssApp, o deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) conclama os apoiadores a participarem da motociata para recepcionar o ex-presidente na chegada a Ribeirão Preto.
Na sexta-feira, o governo anunciou que o Banco do Brasil iria retirar o patrocínio da Agrishow. O ministro Paulo Pimenta argumentou que a decisão de foi tomada porque o evento foi politizado e, devido a isso, não deve receber recursos públicos. O governo não informou qual seria o valor do patrocínio dado pelo Banco do Brasil ao evento. O Banco do Brasil vai manter seu stand na feira, mas a presidente do BB, Tarciana Medeiros não irá.
Procurado, o Banco do Brasil afirmou apenas que "estará presente na Agrishow por meio de sua atuação comercial para realização de negócios e atendimento aos seus clientes", sem responder sobre o patrocínio em si.
O agronegócio tem travado uma relação sensível com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o período eleitoral. O governo tem tentado ampliar seu trânsito no agro, que é um dos setores onde o ex-presidente Jair Bolsonaro tem ampla capilaridade.
Durante o seu governo, Bolsonaro compareceu a feira todos os anos em que foi realizada: 2019, e 2022. No último ano de sua gestão, ele entrou no local montado em um cavalo. Em 2020 e 2021, o evento não ocorreu devido à pandemia da Covid-19.
A ida de Bolsonaro para feira agropecuária ocorre um mês após a volta do ex-presidente ao Brasil. Desde então, ele já prestou dois depoimentos à Polícia Federal, assumiu o cargo de presidente de honra do Partido Liberal e tem atuado nos bastidores para a escalação dos parlamentares que vão compor o bloco da oposição na CPMI dos Ataques Golpistas.