Sem a presença do pai, jovem e mãe vítimas de desabamento em Olinda são enterradas
Velório ocorreu no Cemitério de Guadalupe, em Olinda
O velório e sepultamento de Juliana Alves, de 32 anos, e Flávia Rayane, de 16, aconteceu nesta segunda-feira (1°), no Cemitério de Guadalupe, em Olinda. Mãe e filha foram vítimas do desabamento parcial do Edifício Leme, ocorrido na noite da última quinta-feira (27) no bairro olindense de Jardim Atlântico.
As duas moravam no térreo do edifício com Fábio Ruan, de 17 anos. O jovem tinha saído pouco tempo antes da tragédia para fazer uma entrega. Juliana comercializava frango à parmegiana e o filho realizava as entregas aos clientes. A família voltou a morar no local há cerca de 3 meses, devido às dificuldades financeiras. Fábio Ruan estava presente no velório para dar o último adeus a mãe e a irmã.
De acordo com Luana Vitória, 23, amiga de infância de Flávia, Fábio Ruan ter saído antes da tragédia foi o grande livramento da vida dele.
“Ela [Juliana] vendia frango à parmegiana, e ele saiu antes para entregar, quando voltou já encontrou a situação. Acho que uma hora ou menos de uma hora antes ele conseguiu sair, disse que ia para Ouro Preto e depois voltava, mas não voltou não. Foi o livramento da vida dele, porque Deus é quem sabe que tudo”, disse Luana, que estava emocionada ao se despedir da amiga.
Anne Karoline, 28, era amiga de Flávia e sempre saía com a jovem. Com um semblante de choro e emoção, Anne relembrou como era a adolescente no dia a dia.
“Rayanne era uma pessoa muito boa, amada por todo mundo, todo mundo gostava dela, não tinha maldade no coração, a gente saía, se divertia, ia para a praia, e foi lamentável isso, ninguém acreditou. Vai fazer muita falta, não vai ser esquecida nunca”, afirmou Anne.
Pai e marido não consegue se despedir
Apesar da liberação do Governo de Pernambuco, a cerimônia de despedida foi realizada sem a presença de Fábio Leal da Silva, marido de Juliana e pai de Flávia Rayanne. Ele está preso por roubo desde 2019 em Limoeiro, no Agreste.
Em nota, o Governo de Pernambuco, através da Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), informou, na manhã desta segunda-feira (1º), que Fábio tinha sido liberado e iria para o velório. “A gestão avaliou os possíveis riscos da operação e reorganizou a logística da unidade prisional para atender ao reeducando no velório dos seus familiares”, destacou a nota.
No domingo (30), antes da liberação, o Governo do Estado, também através de nota, disse que o homem não poderia se despedir “em razão da demanda intensa de visitas no final de semana”, apontando “logística inviabilizada”.
Apesar da nota do Governo de Pernambuco que confirmou a ida do detento ao velório, Fábio não saiu da penitenciária, segundo a advogada Djanine Soares. Desde a sexta-feira (28), a família das vítimas tentar, através de advogados, a liberação do preso para a despedida.
Os advogados e familiares ficaram sabendo da liberação através da imprensa. Segundo a advogada, a Seres não informou aos advogados, à penitenciária e à família sobre a permissão que o detento havia recebido.
“Quando a Seres mandou um comunicado para a Folha de Pernambuco afirmando que o mesmo seria liberado, tentei contato com o próprio Fábio, com a diretoria, mas não tinha conseguido. Quando eu consegui o contato com Fábio por meio de um contato que estava de plantão em Limoeiro, Fábio disse que a administração do presídio não recebeu nenhum encaminhamento para ele ser deslocado, não chegou nenhuma escolta e isso foi protelando, deu 14h20 e ele ainda estava lá foi quando vimos que não dava mais tempo dele se despedir da sua família”, disse a advogada.
A Folha de Pernambuco procurou a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) para saber os motivos do detento não ter ido ao velório. Em nota, a Seres afirmou que havia risco de segurança o que inviabilizou o deslocamento do detento.
"Informações apuradas pela superintendência de inteligência da Seres, pouco antes do deslocamento do detento Fábio Leal da Silva, apontaram para risco de segurança o que acabou inviabilizando o comparecimento do detento ao velório”, disse.
Comoção e revolta
De acordo com familiares, o sepultamento seria realizado no domingo (30), mas optaram por esperar a possível liberação de Fábio para a cerimônia. Nesta segunda, o velório começou às 11h. Os familiares e amigos aguardaram até o último momento, mas o reeducando não conseguiu chegar ao local e se despedir. O sepultamento foi realizado às 15h.
Revoltados com a situação, os presentes questionaram ao poder público os motivos para Fábio não ter ido, mesmo após a liberação.
“A gente está cobrando porque o pai dela e o marido dela não pode vir velar o corpo da filha e da esposa. A gente sabe que ele está preso e sabe que ele errou e a única pessoa que pode julgar ele, fez ele livre, que é Deus. E a gente só está cobrando isso, que ele possa velar o corpo da mulher e da filha, que isso é uma situação deplorável”, afirmou Luana Vitória. Segundo Luana, Juliana e Fábio estavam juntos há mais de 20 anos.
Bastante emocionada e revoltada com a situação, Jusiara Giancipoli da Silva, de 55 anos, tia de Fábio, afirmou que ele não conseguiu comparecer ao sepultamento por falta de escolta. “A governadora autorizou o meu sobrinho estar aqui no sepultamento da esposa e da filha e não apareceu porque não tem escolta”, disse Jusiara. Com a situação, Jusiara passou mal e precisou ser amparada pelos presentes.