PRÊMIO DA MÚSICA BRASILEIRA

Isadora Melo, sobre o Prêmio da Música Brasileira: "A indicação já é um prêmio"

Isadora, que em breve cairá na estrada com "Anagrama", foi indicada para o Prêmio da Música Brasileira na categoria Regional/Intérprete

Isadora Melo, cantora e compositora - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Não havia tom ameno na fala. Algumas pausas antecederam respostas, dadas em sintonia com mãos que insistiam em gesticular, acompanhando o que não esteve tão distante de um desabafo - tal qual consta em seu "Anagrama" (2022) - disco que trouxe à tona "uma proposta lúcida dentro desse estado crítico".

Sete anos de carreira depois e 33 de vida, a cantora e compositora pernambucana Isadora Melo segue fincada em clarezas sobre o que pretende como artista e, como consequência natural, o que deseja como mãe de Sereno, o seu pequeno de pouco mais de dois anos gerado do companheiro Rafael Marques, bandolinista, compositor e diretor musical.

 "Quero continuar fazendo isso (música) e conseguir receber por isso, para ter uma vida digna, sabe? Mas não tenho preocupação em fazer sucesso... Quero viajar, fazer projetos, cantar com as pessoas (...) Quero continuar cantando", contou Isadora, em conversa com a Folha de Pernambuco - iniciada a partir de um mote, o Prêmio da Música Brasileira.

 



O evento, anos depois de ter caído no rol do menosprezo cultural pelo qual o País esteve mergulhado, volta em sua 30ª edição com artistas pernambucanos entre os indicados, e Isadora Melo concorrendo na categoria "Regional/Intérprete" ao lado de Almir Sater, Elba Ramalho, Zeca Veloso e o também "da terra", Alceu Valença. Além deles, Duda Beat, Quinteto Violado e o Mundo Bita representam o Estado na cerimônia marcada para 31 de maio no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

"Fiquei surpresa, não esperava. Nunca espero porque acho que não estou dentro de uma lógica de mercado, de algoritmos. Nunca tive um produtor/empresário com dinheiro que investisse em minha música e minha voz (...) Recebi (a notícia sobre o Prêmio) de uma pessoa que me seguia (em rede social). Depois minha mãe também me avisou. Fico muito feliz porque acho que ainda há um caminho de visibilidade, acho que estamos querendo sempre alcançar um público maior, alguém que nos escute", comentou Isadora.

"Anagrama", uma necessidade…
…para que Isadora consolidasse seus (re)encontros com a liberdade dentro do seu cantar". E assim, sob as vestes de quem assina o que escreve para em seguida expressar em forma de canção o que deseja expor, o disco "Anagrama" apresentou ao mundo a outra face de uma intérprete (de si mesma).

"Foi a primeira vez que coloquei minhas músicas, minha escrita, no mundo, e isso traz muita energia, tem muito a ver com Sereno, com a vinda dele, acho que a força de lançá-lo veio com a energia do seu nascimento", conta Isadora, complementando sobre a necessidade de ter um disco assinado e produzido por ela própria.

"Foi um processo que não foi muito consciente, acho que eu precisava, queria entender o mundo de outro jeito. É tudo muito discrepante para a mulher, para a mulher preta, o mundo é isso cruel, homofóbico, racista, machista. Foi um processo de descoberta, entender como é necessário a gente se fazer escritor de nossas próprias angústias e histórias", ressaltou ela, que angariou apoio de Lirinha (Cordel do Fogo Encantado), durante andanças pelo País com o grupo.

"Trocamos muito, Lira e eu. Essa coisa de você ter a sensação de que todo mundo que trabalha com arte está sempre para ser descoberto, na verdade não é assim, nunca vem alguém que te salve e te coloque em outro lugar, é um trabalho muito constante. E ouvi dele 'Faz tua música, vai lá e faz Dora'. E assim como ele, eu fui e fiz. Isso virou uma chave para mim, de escrever e pegar o material, produzir. São pouquíssimas mulheres que produzem música".

Crédito: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Recentemente lançado em show no Teatro do Parque, a ideia é seguir com "Anagrama" palcos afora. Em paralelo, Isadora também traz boas-novas em breve com single ao lado de Zé Manoel.

"Também estou estruturando um programa de entrevista, sobre cultura, sobre música", contou ela, que no próximo dia 31 se fará presente no Prêmio da Música Brasileira. "Eu não estou esperando ganhar. A indicação já é um prêmio para mim, aparecer lá no Municipal… não estou esperando porque sou muito pé no chão".