Operação Venire

Preso pela PF, ex-ajudante de Bolsonaro foi quem tentou "desenrolar" joias na Receita; relembre

Mauro Cid foi braço direito do ex-presidente durante o governo e fez dois pedidos para a liberação dos pacotes milionários recebidos da Arábia Saudita

Joias que Michelle Bolsonaro teria recebido - Reprodução | Isac Nóbrega/PR

Preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (3), o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid Barbosa, foi quem tentou liberar, por duas vezes, as joias de R$ 16,5 milhões recebidas pelo governo da Arábia Saudita. A prisão do tenente-coronel do antigo governo se deu na operação "Venire", que apura a atuação de um grupo suspeito de inserir dados falsos sobre a imunização contra a Covid-19 no sistema do Ministério da Saúde.

Ex-assessor-chefe militar da Ajudância de Ordens da presidência da República durante a gestão Bolsonaro, Cid já havia sido apontado como suspeito de iniciar as tentativas de recuperação das joias trazidas ilegalmente ao Brasil pelo governo federal. Em 29 dezembro de 2022, ele teria enviado o sargento Jairo Moreira da Silva para ir ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, conversar com agentes da Receita Federal na tentativa de liberar os itens.

O emissário tinha, inclusive, um ofício assinado pelo tenente-coronel Mauro Cid, solicitando a liberação. O pedido, no entanto, foi negado. Foi nesse momento que os militares foram informados da necessidade de uma solicitação da Secretaria Especial de Administração da presidência. Segundo depoimento prestado pelo coronel Cid à PF, Jair Bolsonaro informou a ele, em dezembro do ano passado, sobre a existência de um presente retido pela Receita. Frente a isso, o ex-presidente pediu que o militar checasse se era possível regularizar as peças.

De acordo com o site UOL, uma segunda tentativa aconteceu no dia seguinte, 30 de dezembro, dois dias antes de Bolsonaro deixar a Presidência da República. O servidor da Receita, Clóvis Félix Curado Júnior, contou em depoimento que ligaram para o órgão pedido a liberação das peças.

"Recebeu uma ligação na manhã do dia 30/12/2022, logo nas primeiras horas do dia (antes das 09:00h, se não se engana), primeiramente do ten cel Mauro Cid, Chefe da Ajudância de Ordens do Presidente da República, e depois do Secretário Especial da Receita Federal Júlio César, esclarecendo que havia joias retidas pela Receita Federal do Brasil, as quais teriam sido trazidas pelo Ministro de Minas e Energia em viagem oficial há um ano, ou seja, desde 2021", diz o texto do depoimento.

Em resposta, o servidor informou que o pedido não poderia ser feito apenas por telefone e que era necessário oficializar a solicitação para que ela fosse analisada internamente pela secretaria. Depois disso, Mauro Cid e Júlio Cesar Vieira Gomes não deram prosseguimento à demanda.