Documento revela passo a passo de suposta fraude em cartão de vacinação
Em operação que investiga a inserção de informações falsas em sistemas do Ministério da Saúde, estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão e de prisão, em Brasília e no Rio
A investigação da Polícia Federal identificou indícios da participação de um sargento que atuava na ajudância de ordens da Presidência no suposto esquema de fraude em dados de vacinação de auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus familiares.
Segundo a apuração, o sargento Luiz Marcos dos Reis, que era subordinado ao tenente-coronel Mauro Cid no Palácio do Planalto, acionou um sobrinho que era médico em Cabeceiras,cidade com menos de oito mil habitantes no interior de Goiás, para operar a fraude. Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi preso na operação desta quarta-feira, enquanto Reis foi alvo de busca e apreensão.
A apuração aponta o sobrinho do sargento, o médico Farley Vinicius Alcântara, como responsável por fornecer um documento assinado e carimbado por ele atestando que a mulher de Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, se imunizou contra a Covid-19.
Documento obtido pelo GLOBO mostra ainda que Reis teria o PDF “CARTÃO ARQUIVO DE VACINAÇÃO” para Cid, às 19h11 de 21 de novembro de 2021. O PDF informa que Gabriela teria sido vacinada com duas doses contra a Covid-19 do laboratório Biotech (Pfizer), em 17 de agosto e em 9 de novembro daquele mesmo ano, nas unidades básicas de saúde de Cabeceiras.
Como publicado pela colunista Malu Gaspar, com o documento, houve a tentativa de registrar as informações no Sistema Único de Saúde, por meio de computadores ligados a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para que elas pudessem ser consideradas oficiais. Assim, o ex-presidente, seus parentes e familiares conseguiriam, por exemplo, realizar viagens internacionais a países que exigiam a imunização contra Covid na entrada.
Como o lote de vacinas informados, havia sido enviado para Goiás, o sistema rejeitou os dados. Foi necessário então que se conseguisse outro número de lotes do Rio para que o registro fosse confirmado. Alvos de mandados de busca e apreensão nesta manhã, o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ), irmão do ex-prefeito de Caxias, Washington Reis, e o vereador pelo Rio Marcelo Siciliano (PP-RJ), também são investigados por intermediarem esse esquema de falsificação.