Economia

O que a Argentina oferece ao Brasil para liberar as linhas de financiamento à importação

Integrante do governo Argentino diz que até 210 empresas brasileiras poderiam ser beneficiadas, e haveria redução, de 180 para 30 dias, da liberação de mercadorias

Lula e o presidente argentino Alberto Fernández se reuniram na terça-feira (2) - Sergio Lima / AFP

O governo argentino ainda tenta convencer e dar garantias ao governo brasileiro de que será vantajoso o financiamento das importações, pela Argentina, de produtos industrializados do Brasil.

Na visão de um alto integrante do governo argentino, a criação dessa linha de financiamento deve beneficiar, em um primeiro momento, 210 empresas brasileiras de setores como automotivo, siderúrgico, químico, farmacêutico, mineral, calçadista e outro.

Em contrapartida, esses grupos, que enfrentam dificuldades para vender e receber pelos produtos, serão beneficiados com a redução, de 180 para 30 dias, da liberação das mercadorias exportadas para o mercado argentino e do pagamento das operações.

Esse prazo de 180 dias faz parte do regime de comércio administrado pelo governo argentino. O país está disposto a diminuir o prazo imediatamente, assim que for liberada uma linha de crédito em reais.

Para o Brasil, afirmou essa fonte, seria uma forma de recuperar o espaço perdido para a China. A estimativa é que as exportações brasileiras para a Argentina caíram em torno de US$ 4 bilhões no período de 2014 a 2019, valor que se reverteu para as vendas chinesas aos vizinhos.

Na visão de especialistas brasileiros, no entanto, o financiamento tem riscos, ainda que seja coberto pelo Fundo Garantidor de Exportação. Como o peso está perdendo valor, e a Argentina não tem reservas cambiais em excesso, o Tesouro brasileiro seria o garantidor de última instância da operação, em caso de calote. Isso já aconteceu com outros países, os mais notórios, Venezuela e Cuba.

A crise econômica na Argentina foi discutida em uma reunião que durou quatro horas, na noite de terça-feira, entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández.

O argentino saiu do Palácio da Alvorada de mãos vazias, mas com a promessa de que Lula vai se empenhar para facilitar a criação de uma linha de crédito para financiar importações de produtos brasileiros pelo país vizinho e tentar convencer a renegociar o acordo que está em vigor com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para liberar a linha de crédito, é preciso o aval do Ministério da Fazenda para que seja usado o Fundo Garantidor de Exportações (FGE). Com recursos do Tesouro Nacional, o fundo poderia cobrir os valores devidos pela Argentina, em caso de inadimplência. O BNDES poderia ser o financiador.

Lula disse que vai conversar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para “retirar a faca do pescoço da Argentina” e com outros organismos internacionais, como o Banco do Brics (sigla formada pelo bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) — que poderia oferecer garantias ao empréstimo, caso o FGE não possa ser utilizado — para tentar conter a crise.

Ele admitiu que Fernández deixará o Brasil, no fim desta manhã, “sem dinheiro”, mas com muita disposição política.