Juros

"Pode falar de tudo, só não pode falar de juro", diz Lula, em nova crítica a Campos Neto

Presidente afirmou ainda que "um homem sozinho" não pode saber mais "do que a cabeça de 215 milhões de pessoas"

Presidente Lula - José Cruz/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar nesta quinta-feira (4) a alta taxa de juros do país. Citando nominalmente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Lula afirmou que "se pode falar de tudo" no país, "só não pode falar de juro". O presidente afirmou ainda que "um homem sozinho" não pode saber mais "do que a cabeça de 215 milhões de pessoas".

– O povo mais pobre ele sofre as consequências dos juros, mas ele não reclama porque para ele o que interessa é se a prestação do bem que ele vai comprar cabe no bolso dele. Não adianta comprar uma coisa de juros zero e ele não poder pagar a prestação. Eu não estou dizendo isso, Roberto Campos, porque concordo com você não. Eu, todo mundo aqui sabe, que esse Conselho pode até discutir taxa de juros se quiser. Porque engraçado, é muito engraçado o que se pensa nesse país. Todo mundo aqui pode falar de tudo. Só não pode falar de juro.

O presidente estava acompanhado pela primeira-dama Janja da Silva, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e por ministros de estado, incluindo Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), que coordena o Conselhão.

Nesta quarta-feira, na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) após a divulgação da proposta do governo de um novo arcabouço fiscal, o Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75%, conforme o esperado. No comunicado da decisão, os integrantes do Copom ainda não deram sinais de que irão reduzir os juros na próxima reunião, em junho, e disseram mais uma vez que não existe "relação mecânica" entre a aprovação do texto pelo Congresso e o relaxamento da política monetária.

No momento, Lula discursava sobre as desigualdades sociais, apesar do crescimento econômico do país. O presidente afirmou que era " muito duro você viver num país" em que, apesar dos índices de crescimento econômico, a população ficou mais pobre "porque a massa salarial e as conquistas sociais não acompanham o crescimento da economia desse país".

Lula, então, questionou a falta de capacidade de compra de parte considerável da população e afirmou que a parcela mais pobre da população se preocupa, prioritariamente, com o valor das parcelas. O presidente, no entanto, destacou na sequência que não concordava com Roberto Campos Neto sobre o juros e criticou que "todo mundo tem que ter cuidado" para tratar do assunto.

– A FIESP precisa tomar muito cuidado para falar de juro. A Federação do Comércio muito cuidado. As indústrias têxtil muito cuidado. Todo mundo tem que ter cuidado. Ninguém fala de juro. Como se um homem sozinho pudese saber mais do que a cabeça de 215 milhões de pessoas.

Como o GLOBO mostrou, dados divulgados pelo Banco Central mostram que as famílias brasileiras estão entrando em um círculo vicioso do crédito: com dificuldade para pagar as contas, acabam recorrendo às piores linhas do sistema financeiro, como cheque especial, rotativo do cartão de crédito e, em um melhor cenário, ao crédito pessoal.