Ex-presidente do Brasil

Saiba os próximos passos da PF para investigar fraude em dados de vacinação de Bolsonaro

Agentes analisam celulares e pen-drives encontrados com o ex-presidente e outros alvos da operação Venire

Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil - Ton Molina / AFP

A Polícia Federal (PF) aguarda os depoimentos do ex-presidente Jair Bolsonaro e do seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid para avançar nas investigações sobre as supostas fraudes nos cartões de vacina dos dois e de seus familiares.

A PF ainda deve fazer a perícia no celular do ex-presidente, que não era bloqueado por senha, e no pen-drive encontrado em sua residência. O político do PL foi alvo de mandado de busca e apreensão na operação Venire, deflagrada nessa quarta-feira (3).

A defesa do ex-presidente pediu o adiamento do depoimento marcado inicialmente para esta quarta-feira sob o argumento que ainda não havia tido acesso completo aos autos do inquérito. Os advogados se debruçaram na madrugada desta quinta-feira sobre os documentos que totalizam mais de 200 páginas. A data da oitiva ainda não foi agendada. Só em abril, Bolsonaro chegou a comparecer duas vezes à PF para prestar esclarecimentos sobre o caso das joias sauditas e sobre um post em que contestava o resultado das eleições de 2022.

Mauro Cid, por sua vez, está preso preventivamente na Polícia Federal. Por orientação de seus advogados, ele permaneceu em silêncio diante dos policiais e deve ser ouvido nos próximos dias.

Em sua casa, a PF apreendeu US$ 35 mil e R$ 16 mil reais em espécie guardado em um cofre. Ele deve dar explicações sobre esse montante. O celular dele também foi apreendido e deve ser analisado pela perícia. Uma quebra de sigilo em seus aparelhos foi o que originou as investigações.

O ex-presidente passou o dia de ontem dizendo que nunca tomou vacina contra a Covid-19 e que, como chefe de Estado, não precisava do certificado para viajar a outros países. A PF, no entanto, suspeita que, como não estava em viagem oficial aos Estados Unidos, ele poderia ser instado a apresentar o certificado de vacinação.

Os investigadores identificaram que documentos de imunização no aplicativo ConecteSUS foram emitidos a partir de endereços de IP do Palácio do Planalto. Os downloads foram feitos dias antes e na própria data da viagem de Bolsonaro a Orlando, na Flórida, para onde ele foi antes do fim de seu mandato. A temporada do ex-presidente nos Estados Unidos se estendeu por três meses.

Após ter acesso aos autos do processo, os advogados de Bolsonaro já definiram uma das linhas de defesa. Assessor jurídico e ex-secretário de comunicação do ex-presidente, Fábio Wajngarten afirmou que Bolsonaro não acessou o sistema do ConectSUS nem pediu a ninguém que expedisse o certificado de vacinação por ele.

— Vamos pontuar: o presidente nunca acessou, o presidente nunca soube a senha, nunca manuseou o gov.br. Não houve nenhum pedido (para baixar o certificado vacinação) — disse ele após reuniões com o ex-presidente na sede do PL. A negativa joga a responsabilidade sobre o colo de Mauro Cid.

Segundo a PF, foi do celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que foram emitidos alguns certificados de vacinação.

A suposta fraude teria sido possível por meio de um suposto esquema montado na Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por onde os registros foram inseridos e excluídos do sistema da Saúde.

Outros alvos
Além de Cid, também foram presos preventivamente outros dois auxiliares diretos de Bolsonaro - o policial militar Max Guilherme e o capitão do Exército Sérgio Cordeiro. Os três atuavam como seguranças e acompanhavam o dia-a-dia do ex-presidente.

Outros dois alvos de prisão preventiva tiveram envolvimento direto na inserção de doses falsas de vacina tomadas por Bolsonaro, Mauro Cid e seus respectivos familiares, segundo as investigações. Major reformado do Exército e ex-candidato do PL a deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Ailton Barros é o que mais deve explicações à PF.

Em um áudio interceptado pelos policiais, ele diz que sabe quem mandou matar a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em 2018. "Eu sei dessa história da Marielle, toda, irmão. Sei que mandou. Sei a porra toda", afirma ele em mensagem enviada a Mauro Cid.

Ele deve ser questionado sobre o caso.