PF marca data de depoimento de Anderson Torres; veja cinco pontos que ele terá esclarecer
Ex-ministro está preso desde janeiro
A Polícia Federal (PF) marcou para a tarde da próxima segunda-feira, dia 8, o depoimento do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres. O delegado deverá ser ouvido no inquérito que apura a atuação da Polícia Rodoviária Federal durante o segundo turno das eleições de 2022. As investigações tentam esclarecer se ele teria interferido em operações da corporação a fim de dificultar a movimentação de eleitores, especialmente no Nordeste, onde Lula tinha larga vantagem sobre Bolsonaro.
O depoimento de Torres estava marcado para a última segunda-feira, mas foi adiado, a pedido de seus advogados, devido ao “agravamento do quadro de saúde psíquico" dele. Os advogados anexaram um laudo que atestaria piora no quadro depressivo do ex-ministro, que está preso no Batalhão de Aviação Operacional da Polícia Militar, no Guará, em Brasília. Ele é suspeito de omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro, quando ocupava o cargo de Segurança Pública do Distrito Federal.
Na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) havia determinado que a Secretaria de Saúde dissesse se a unidade prisional “possui as condições necessárias para garantir a saúde do custodiado, especificando as providências que já foram/devem ser adotadas", e "se entende conveniente a transferência para hospital penitenciário". Hoje, os advogados do ex-ministro responderam não considerar necessária a mudança.
Veja cinco pontos que Torres terá que esclarecer:
Interferência em operações da PRF
O ex-ministro terá que explicar a concentração de operações da Polícia Rodoviária Federal no Nordeste, onde Lula era favorito. Um relatório do Ministério da Justiça entregue à Controladoria Geral da União (CGU) mostra que agentes da corporação fiscalizaram 2.185 ônibus na região, contra 571 no Sudeste, entre 28 e 30 de outubro, vésperas e dia do segundo turno das eleições de 2022.
Mudança no planejamento inicial das blitzes
Ao assumir o Ministério da Justiça – ao qual a PRF está subordinada, Flávio Dino afirmou que os dados apresentados pela própria pasta apontam ao menos outras duas “anomalias” na corporação durante as eleições de 2022, além da concentração de operações no Nordeste: mudanças no planejamento inicial e uma determinação para que a PRF atuasse em conjunto com a Polícia Federal no segundo turno.
Viagem à Bahia
Uma viagem realizada pelo ex-ministro à Bahia entre o primeiro e o segundo turno das eleições também deverá ser abordada durante a oitiva. Na ocasião, no final da manhã de 26 de outubro, Torres e seus assessores se reuniram com o superintendente da Polícia Federal na Bahia, Leandro Almada, e seus dois assessores diretos, os delegados Flávio Marcio Albergaria Silva e Marcelo Werner Derschum Filho. O objetivo seria passar pessoalmente uma ordem: que a PF se engajasse, com equipes e trabalho de inteligência, na operação que o Ministério da Justiça planejara com a PRF nos ônibus e veículos que transportariam eleitores, com vistas a parar todos os que apresentassem qualquer irregularidade.
Planilhas com votações de Lula e Bolsonaro
Para mobilizar a PRF, o ex-ministro teria utilizado planilhas que mostram as relações de cidades e as votações de Lula e Bolsonaro no primeiro turno. Os documentos que já constam no inquérito foram elaborados por Clebson Ferreira de Paula Vieira a pedido de Marília Alencar, então diretora de inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar.
Depoimento de subordinada
À PF, Marília disse que o levantamento foi encomendado pelo próprio Anderson Torres para, segundo ela, avaliar se havia indícios de compra de voto no pleito, e que considerou um "absurdo" e ficou "surpresa" com as informações de que a PRF estava parando eleitores no dia do segundo turno das eleições.