Volkswagen reduz produção em SP e Paraná; pelo menos 16 fábricas do setor já paralisaram este ano
Queda nas vendas, por conta dos juros altos, e falta de componentes são apontados como fatores
Para adequar a produção ao volume de vendas, que está em queda este ano, a Volkswagen vai reduzir de dois turnos para um o funcionamento de suas fábricas em São José dos Pinhais, no Paraná, e Taubaté, no interior de São Paulo, a partir de 1º de junho. A montadora alemã também vai adotar o lay off (suspensão temporária do contrato de trabalho) por até quatro meses.
As informações foram confirmadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba e pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região.
A previsão é que 700, dos 2 mil funcionários da unidade do Paraná tenham o contrato suspenso, segundo o sindicato. A produção diária de veículos cairá de 500 unidades para 300 unidades ao dia. O objetivo era fabricar 100 mil veículos este ano, mas a com a medida serão 90 mil unidades.
A Volkswagen produz o T-Cross na fábrica. Em abril, a montadora já tinha promovido um Programa de Demissão Voluntária (PDV) naquela unidade, com adesão de cerca de 70 funcionários.
Em Taubaté, unidade onde a Volks fabrica o Polo Track, o lay off atinge deve atingir 800 trabalhadores, segundo o sindicato. A medida deve durar entre dois e cinco meses. Os sindicatos informaram que o lay off está previsto no acordo coletivo com a montadora.
Entre março e abril, a Volks já tinha dado férias coletivas para dois mil metalúrgicos, na unidade de Taubaté e na fábrica de motores de São Carlos, também em São Paulo. Um grupo de 900 trabalhadores chegou a ficar afastado do trabalho por um mês.
Desde fevereiro, a Volkswagen já concedeu sete períodos de férias coletivas em suas quatro fábricas no país. Em comunicados, a montadora informou que as pardas seriam necessárias para manutenção nas linhas de produção e falta de componentes, com a interrupção da cadeia de produção durante a pandemia, que ainda afetam as montadoras este ano.
Nos comunicados, a montadora não fala em queda de vendas, mas os sindicatos de metalúrgicos afirmam que a montadora fala em queda de vendas, pelo impacto dos juros elevados. Procurada para comentar o lay off, a Volks ainda não se pronunciou.
Desde o início do ano, pelo menos 16 fábricas já anunciaram paralisações por falta de componentes, incluindo duas de motores, sem contar os lay offs. É mais da metade das 27 montadoras associadas à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) que representa o setor. No total, o Brasil tem 57 fábricas do setor, que produzem motores, veículos, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. Neste ano, houve também três encerramentos de turnos, sem data para retorno.
Nesse grupo estão, além da Volks, montadoras como General Motors, Hyundai, Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën), além das fabricantes de caminhões Mercedes-Benz e Scania. O primeiro trimestre do ano terminou com vendas de veículos zero quilômetro abaixo do esperado, trazendo preocupação ao setor diante de um cenário de juros elevados, falta de crédito e perda de renda do brasileiro.
Na quarta-feira, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um estudo detalhado sobre o setor automotivo elaborado pela entidade e pela subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
No documento, estão propostas para recuperação do setor, como juros mais baixos e linhas de financiamento populares, redução do valor dos veículos, incentivo às etapas de produção, nacionalização de peças e equipamentos e proteção ao emprego.
O presidente da Anfavea, Márcio de Lima leite, afirmou durante coletiva em abril que várias alternativas estão sendo discutidas com o governo para estimular a demanda por carros novos. Entre elas, a volta do carro popular "verde", com preço estimado entre R$ 45 mil e R$ 50 mil, uso de parte do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para compra de veículos zero quilômetros.
Reportagem do Globo mostrou que, atualmente, para cada carro zero quilômetro vendido são comercializados sete usados. Há alguns anos, essa relação era de um zero quilômetro para três usados. Um carro usado emite 23 vezes mais poluentes que um carro novo. A frota do país tem hoje, em média, 10,3 anos de uso, mesmo patamar de 1995.