MDB esconde Temer e aposta em Tebet para inserções na TV
Comerciais vão ao ar nesta quinta e trazem também falas dos outros dois ministros de Lula
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, é o destaque das novas inserções do MDB que começam a ser veiculadas no rádio e na televisão nesta quinta-feira (4). Nas peças, a ex-senadora e terceira colocada nas eleições presidenciais do ano passado fala sobre a participação das mulheres na política e defende a paridade de salários entre homens e mulheres, pauta que se tornou bandeira do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Caciques da legenda, como o ex-presidente Michel Temer, ficaram de fora da campanha.
Apesar de o presidente da República não ser citado nominalmente nos vídeos aos quais O Globo teve acesso com exclusividade, a sigla deu visibilidade aos outros dois ministros de governo, Renan Filho (Transportes) e Jader Filho (Cidades), que aparecem na mesma inserção. Jader elogia o programa Minha Casa, Minha Vida, uma das marcas das gestões petistas e que hoje está sob seu guarda-chuva.
Os vídeos do publicitário Robson Ferri consolidam o nome de Tebet como a principal aposta do partido nacionalmente. Resultados preliminares de uma pesquisa qualitativa encomendada pela legenda no início do ano mostram que a ministra assumiu protagonismo dentro da sigla e conseguiu colar sua imagem à do MDB, o que justifica o espaço dado a ela nas inserções. A pedido dos estados, Tebet ainda irá aparecer em inserções regionais no Amapá e Paraná.
Além da pauta de gênero, a ministra posiciona o partido ao centro, dizendo que o MDB é a legenda "do equilíbrio" e da "defesa da democracia", em discurso semelhante ao das eleições de 2022.
O relatório parcial da pesquisa qualitativa mostra, porém, uma rejeição da ex-senadora a ser superada entre eleitores que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Porém, traz uma boa notícia para a legenda que virou base de Lula: os eleitores, mesmo os bolsonaristas, entendem que o partido deve colaborar com o governo, e não ser oposição. Por isso a decisão de incluir os três ministros.
Sem legado a defender
A campanha, cujo mote é “Sua voz é a nossa voz”, deixa de fora alguns dos principais caciques do partido, incluindo o ex-presidente Michel Temer, que deixou o Palácio do Planalto com 62% de rejeição, segundo pesquisa Datafolha divulgada em 27 de dezembro de 2018. Nenhum "legado" de Temer é citado pela campanha do MDB.
Os vídeos mostram, por outro lado, que o partido busca se descolar a sua imagem de integrantes que, no passado, estiveram envolvidos em escândalos de corrupção e outras polêmicas — e, portanto, estão desgastados na opinião pública. Um dos poucos contemplados é Eduardo Braga, líder do partido no Senado.
O novo momento que a legenda busca traçar aos brasileiros também joga luz sobre o governador do Pará, Helder Barbalho, tido como uma liderança em ascensão no partido. No vídeo, Helder aposta na pauta ambiental como e fala do compromisso do partido com a “preservação e regeneração da Amazônia”. Em janeiro, o governador reeleito com 70% dos votos assumiu a presidência do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal.
Por questões regionais e de divisão de espaço, há inserções dos líderes do Senado e da Câmara, Eduardo Braga e Isnaldo Bulhões, além de Alceu Moreira, representante da legenda no Sul do país e presidente da Fundação Ulysses Guimarães, que fala em defesa do agronegócio. O tema é ponto sensível na relação do MDB com o governo Lula, especialmente após as recentes invasões do MST e possível instalação de uma CPI.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, não aparece na campanha. O chefe do Executivo Municipal paulistano é um dos principais projetos do MDB no país, mas, como mostrou o GLOBO, ainda busca uma marca própria para disputar a reeleição. A sua secretária de Cultura, Aline Torres, aparece em uma inserção que trata da participação de pessoas negras na política.
O presidente da legenda, deputado Baleia Rossi (SP), é a voz do que, hoje, é uma das principais bandeiras do partido: a reforma tributária. Baleia é autor de uma das Propostas de Emenda Constitucional sobre o assunto, que é aposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para melhorar a economia.