Arcabouço fiscal é "razoável" e vai criar condições para corte de juros, avalia Esteves, do BTG
Para executivo, relações entre BC e Ministério da Fazenda são harmoniosas
O arcabouço fiscal apresentado pelo governo é razoável e vai gerar algum superávit primário para permitir que o Banco Central (BC) comece a cortar juros, ainda que não de forma imediata. Essa é a avaliação do presidente do conselho de administração e sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves.
— Vimos a apresentação do arcabouço fiscal dentro do razoável e vai nos levar a um superávit primário com uma certa modéstia, que vai ser suficiente para o controle da nossa dívida. E essa é obviamente uma das condições principais para permitir que o Banco Central corte os juros— disse.
As declarações foram dadas durante um evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), no qual o executivo recebeu a comenda Bicentenário do Visconde de Mauá, maior honraria dada pela ACRJ.
Para Esteves, o Brasil vive uma cacofonia no debate econômico, que gera custos. No entanto, ele avalia que essa cacofonia entre o Ministério da Economia e o BC não é tão alta.
Nos últimos meses, tanto o presidente Lula (PT) quanto integrantes do governo têm criticado abertamente à condução de política monetária da instituição e o patamar elevado da Selic.
— As relações entre Fazenda e BC me parecem que são mais harmônicas. O Planalto segue uma agenda política. O presidente Lula tem demonstrado uma certa ansiedade de entregar resultado, mas eu vejo isso com naturalidade
Esteves afirmou que o BC está fazendo seu trabalho. O executivo comparou a atuação da instituição com a do Federal Reserve, banco central americano, que demorou mais tempo para reagir ao aumento da inflação, estando, na avaliação de alguns economistas, atrasado no combate inflacionário. Para Esteves, o Fed cometeu um “erro dramático” de política monetária.
Ao contrário do Fed, o BC brasileiro promoveu rápidos aumentos de juros desde março de 2021, com a Selic estando no atual patamar de 13,75% desde agosto do ano passado.
— Aqui não cometemos isso. Nós nos antecipamos. E naturalmente o próximo movimento de taxa de juros vai ser uma queda. Nós gostaríamos que ela (a queda) seja o mais rápido possível, agora é preciso ter condições para isso. E elas gradualmente têm sido dadas. E a Fazenda está fazendo isso.
Perguntado sobre as recentes críticas de membros do governo ao BC, Esteves ressaltou cabe ao banco decidir sobre a política monetária.
— Apesar dessa ansiedade, o dono da caneta é o BC, que tem independência técnica [...]Acho que o BC vai fazer o trabalho dele e tem uma lei mais popular em política monetária, que quanto mais você late, menos precisa morder.
Reforma tributária
Para o executivo do BTG, o país possui boa chance de avançar no campo tributário neste ano, ainda que não possa ser considerada uma salvação definidora para a economia brasileira.
— A reforma tributária é difícil de ser executada, porque ela traz conflitos. [...] Estamos fazendo uma série de reformas, vivemos um período muito reformista no Brasil, que cruzou governos e estou achando que vai continuar seguindo nesse novo governo Lula. Mas não vamos sair crescendo, cantando o pneu como nação.
Esteves também criticou o falso dilema entre responsabilidade fiscal e aumento de gastos. Ele citou como exemplo negativo o caso da Argentina, país que convive com um cenário de inflação descontrolada e juros elevados.
— Esse é um falso dilema. Os países que têm o maior imposto social do mundo não são países com dívida descontrolada. Não podemos ficar presos ao discurso raso. A questão do equilíbrio fiscal é básica. Ninguém aqui pode gastar mais do que ganha.
Para executivo, o Brasil não precisa aumentar os gatos, mas sim focar na melhora qualitativa das despesas.
— Começamos a ter uns falsos dilemas. Será que a gente está precisando gastar mais? Não, estamos precisando gastar melhor. Não olhar no curto prazo, na política da vez, na necessidade do momento.
Também esteve presente no evento, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Ele também defendeu a necessidade de simplificação do sistema tributário, mas reconheceu a dificuldade de criação de consensos no atual contexto político.
— É tanto interesse que vai ter que mexer. Acho difícil demais construir esses consensos no ambiente que a gente vive.
Segundo Paes, é natural a “angústia” do presidente Lula para dar respostas às demandas da sociedade.