Anderson Torres presta novo depoimento à PF nesta segunda (8): saiba os principais pontos
Defesa do ex-ministro da Justiça declarou que ele comparecerá à PF e não recorrerá ao direito de permanecer em silêncio
Preso há mais de 110 dias, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres irá prestar depoimento à Polícia Federal na tarde desta segunda-feira (8).
A defesa de Torres já confirmou que ele comparecerá à superintendência nacional da PF às 14h30 e abrirá mão do direito de permanecer em silêncio. No fim de abril, a oitiva dele chegou a ser adiada em função do "seu estado de saúde delicado", conforme argumentou os seus advogados na ocasião.
— Ele vai abrir mão do direito ao silêncio e esclarecerá tudo o que for questionado — afirmou Eumar Novacki, que lidera o time de advogados responsável pela defesa do ex-ministro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Ele será interrogado sobre as ordens que deu à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para promover uma série de bloqueios nas rodovias no dia do segundo turno das eleições de 2022. A maior parte das blitzes foi registrada na Região Nordeste, o que o atual diretor geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, classificou como "desproporcional". A PF suspeita que Torres idealizou a operação com o intuito de atrapalhar o trânsito de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
À PF, Torres dirá que as ações ocorreram em todo o país e que não houve qualquer direcionamento eleitoral.
Os investigadores já têm em mãos a planilha que ele pediu a seus subordinados para basear a ação - o arquivo levanta os locais em que Lula e o então presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram o melhor desempenho eleitoral. A defesa irá pontuar que o mapeamento foi feito sobre ambos os candidatos.
A PF também deve indagar o ex-ministro da Justiça sobre as razões de ele ter viajado à Bahia nas vésperas do segundo turno. Os investigadores suspeitam que a visita serviu para orientar a PF e a PRF sobre os bloqueios que seriam realizados no Estado, que foi crucial para a vitória eleitoral de Lula.
Torres deve explicar que a viagem ocorreu para atender um convite do então diretor-geral da PF, Márcio Nunes. Ele deve mostrar uma foto publicada no site da PF que o mostra ao lado de Nunes numa "visita à obra de reestruturação do edifício", segundo a legenda da imagem.
Em abril, a PRF reinstaurou uma investigação interna para apurar o que motivou a operação dos bloqueios nas estradas. No despacho, o então corregedor-geral substituto da corporação Vinicius Behrmann Bento alegou que havia "fatos novos" que ensejavam o desarquivamento do procedimento.
Terceira depoimento
Esta será a terceira vez que Torres prestará esclarecimentos à PF neste ano. A primeira ocorreu em 18 de janeiro, quando ele decidiu ficar em silêncio sob o argumento de que não havia tido acesso aos autos.
Em 2 de fevereiro, ele foi interrogado por mais de 8 horas no 4 Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, onde ele está preso desde janeiro. Na ocasião, Torres afirmou que considerava a minuta golpista encontrada em sua casa como um documento "muito ruim", apócrifo, que "já era para ter sido descartado". O papel timbrado, que falava em instaurar "estado de defesa" no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi apreendido em sua residência durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão.
Força moral
Neste sábado e domingo, senadores visitaram Torres na prisão com o intuito de verificar o seu estado de saúde e lhe dar uma "força moral".
-- Ele está muito triste, abatido, chora o tempo todo. Imagina não poder ver os filhos há tanto tempo? — disse o senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Ainda segundo o senador, Torres afirmou que está com a consciência tranquila e disposto a falar.
O ministro Alexandre de Moraes atendeu um pedido feito por 42 senadores que queriam visitar Torres no batalhão da PM. Moraes, no entanto, excluiu da lista os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Marcos do Val (Podemos-ES) por entender que há uma "conexão" dos dois em investigações envolvendo o ex-ministro.
Torres está preso desde 14 de janeiro, por suspeita de omissão e falhas no planejamento de segurança do Distrito Federal que culminou com os atos golpistas de 8 de janeiro. Na época dos atentados contra a sede dos Três Poderes, ele era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e estava em viagem com a família nos Estados Unidos.