Governo traça estratégia para garantir maioria no Banco Central na definição dos juros
Haddad indicou Gabriel Galípolo para diretoria mais importante da autarquia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central como um contraponto ao atual presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
Sozinhos, nenhum dos dois consegue definir os rumos da taxa básica de juros (Selic), mas o Executivo montou uma estratégia para garantir “maioria” no Comitê de Política Monetária (Copom) do BC ainda neste ano.
A Taxa Selic, hoje em 13,75%, é definida pela maioria do Copom, formado pelos oito diretores do BC e seu presidente. Nesta segunda-feira, o governo indicou dois nomes (além de Galípolo, foi escolhido Ailton de Aquino Santos para a Diretoria de Fiscalização). Outros dois nomes serão indicados em dezembro. Todas as indicações precisam passar pelo Senado.
Para alcançar a “maioria”, a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai trabalhar para atrair mais um diretor, de acordo com integrantes do governo. O presidente Lula e demais integrantes do governo têm criticado o atual patamar dos juros de forma recorrente.
Galípolo sempre foi o preferido de Haddad para substituir Campos Neto, cujo mandato se encerra no fim de 2024. A indicação dele agora para a diretoria mais importante do BC é tida no governo como um aceno ao diálogo, além de um contraponto à atual gestão.
Campos Neto ficará mais de um ano e meio à frente do BC e, durante esse período, terá o seu provável sucessor sentado na cadeira mais importante da diretoria da autoridade monetária. Para o governo, esse cenário vai trazer mais discussões internas sobre o patamar dos juros. E isso será puxado por alguém respeitado pelo mercado e pelo governo, na visão da Fazenda.
O diretor de política monetária tem um papel fundamental na definição da Selic sob a sua gestão ficam as mesas de câmbio e de juros — ou seja, a operações dos leilões de títulos e swaps cambiais que regulam a oferta de dinheiro e de dólares em circulação.
Galípolo e Campos Neto são próximos e conversam quase diariamente, de acordo com interlocutores dos dois.
— A primeira vez que ouvi o nome do Galípolo para o Banco Central partiu do Roberto Campos Neto. Eu estava na reunião do G20 na Índia e fomos almoçar juntos. Foi a primeira pessoa que mencionou a possibilidade, no sentido de entrosar as equipes do Ministério da Fazenda e do BC — disse Haddad, ao anunciar a indicação de Galípolo.