COPOM

Banco Central pede novamente "paciência" e diz que alta de juros ficou "menos provável"

Autoridade monetária não sinaliza queda da Selic na próxima reunião e volta a enfatizar preocupação com a piora das expectativas

Banco Central - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Banco Central ainda não indicou queda de juros, na ata do Copom divulgada nesta terça-feira (9), mas disse que os cenário “que poderiam requerer a retomada do ciclo de aperto monetário se tornaram menos prováveis”. Por três vezes, o texto pede “paciência” na condução da política monetária.

Na semana passada - primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) após a divulgação da proposta do governo de um novo arcabouço fiscal - o Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75%, conforme o esperado.

A Selic em 13,75% é o maior patamar de juros desde novembro de 2016, quando a taxa estava em 14% ao ano. Foi a sexta manutenção seguida nesta patamar.

"Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado."


Arcabouço fiscal
O Banco Central também voltou a dizer que a aprovação de um arcabouço fiscal sólido pode levar a uma melhora das expectativas, mas ressaltou, novamente, que não há uma "relação mecânica" entre a convergência da inflação e a aprovação do texto.

"O Copom novamente enfatizou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, uma vez que a trajetória de inflação segue condicional à reação das expectativas de inflação e das condições financeiras. A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia, o prêmio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do Comitê."

Inflação de demanda
Também por meio da Ata divulgada nesta terça-feira, o Banco Central contestou a tese reiteradamente defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do governo sobre a “inexistência” da inflação de demanda no Brasil.

A ala política do governo argumenta que os juros de 13,75% é "inexplicável" porque não haveria excesso de consumo da população brasileira. O BC tem se mostrado especialmente preocupado com o que chama de núcleo de inflação, e com a inflação de serviços. Dividiu a queda do IPCA em dois momento. O primeiro, mais rápido, já aconteceu. O segundo, mais lento, é que depende da melhora dos núcleos e da inflação de serviços, que são mais relisientes.

Dividiu a queda do IPCA em dois momentos. O primeiro, mais rápido, já aconteceu. O segundo, mais lento, é que depende da melhora dos núcleos e da inflação de serviços, que são mais resilientes.

“Os dados inflacionários mais recentes corroboram a visão de um processo de desinflação mais lento, em linha com a visão de uma inflação movida por excessos de demanda, em particular no segmento de serviços”.

Inflação no segundo semestre
O Banco Central projeta continuidade na queda “relevante” no nível de inflação ao longo deste trimestre. Porém o BC espera uma subida no nível de preços no segundo semestre. A taxa que considera os últimos 12 meses ainda está com os efeitos de medidas de curto prazo adotadas no governo Bolsonaro, especialmente a desoneração de combustíveis.

Com a volta integral dos impostos federais sobre esses itens de consumo, a gasolina e o etanol ficarão mais caros, pressionando a inflação. Até o momento, o governo Lula adotou um retorno parcial à oneração. É esse cenário de médio prazo que o BC está incorporando nas perspectiva de inflação e, portanto, na decisão sobre juros:

“No segundo semestre de 2023, como os efeitos das medidas tributárias que reduziram o nível de preços no terceiro trimestre de 2022 não estão mais incluídos na inflação acumulada em doze meses e ainda se terá a inclusão dos efeitos das medidas tributárias deste ano, se observará elevação do mesmo indicador. O Copom, portanto, enfatiza que tal comportamento não reflete a dinâmica inflacionária subjacente e nem altera a visão sobre as perspectivas futuras”.