RITA LEE

Rita Lee e a profecia sobre o dia de sua morte: "Ué, pensei que a véia já tivesse morrido"

Em livro autobiográfico, Rita Lee fez "previsões" sobre reações de fãs, dos meios de comunicação e de políticos no dia de sua partida

Rita Lee, cantora e compositora - Reprodução/Instagram

"Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída".

Tal qual em vida, Rita Lee segue "em morte" imensa, integrando o rol das praxes costumeiras de atribuir a quem se vai a máxima de insubstituível. Poucos são/serão. Rita é/será. E isso não chega a ser o que se pode chamar de positivo… Porque gerações (da música) vêm e vão e, portanto, natural que renovações viessem com a capacidade de fazer parar saudosismos sonoros.

 

Em uma de suas obras deixadas em vida, um livro - "Rita Lee: uma autobiografia" (2016, Globo Livros) -  ela falou de morte. Da sua própria morte. Em capítulo intitulado "Profecia", integrante das poucos mais de 290 páginas da obra - concorrente do Jabuti em 2017 - que faz um passeio da infância à chegada da "melhor idade" e, por uma lógica cronológica, do seu próprio fim, com o realce do que aconteceria instantes após sua partida.

Além de sugerir que viriam "palavras de carinho de quem a destesta", ela previu também sobre o que seus fãs, sinceros, iriam ostentar. "(...) empunharão capas dos meus discos e entoarão 'Ovelha Negra'".

Sem jabá
Sobre os meios de comunicação, além dos rádios que tocariam suas músicas "sem cobrar jabá", ela previu - e acertou - que o resumo de sua trajetória seria exibido em telejornais do dia. "As TV's já devem ter na manga (o resumo)".

E curiosamente em menção às redes virtuais - que há sete anos não disseminavam o ódio com a mesma insolência dos dias atuais - Rita afirmou: "Nas redes virtuais, alguns dirão: 'Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk'’.

Rita Lee B-A-I-L-O-U com tudo, com todos. Desejou ser indio, viver pelado, pintado de verde - num eterno domingo. Desejou ser ser bicho-preguiça, e em prosa com Deus pediu para um dia acabar voando e para morrer bem velha, porque...

 "Na hora H quando a bomba estourar, quero ver da janela//E entrar no pacote, de camarote, e tomar banho de sol" (Baila Comigo, 1980).

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Leia o trecho do livro, no capítulo "Profecia", na íntegra,

Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída.

Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão "Ovelha negra", as tvs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair.

Nas redes virtuais, alguns dirão: "Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, Kkk". Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: "Thank you Lord, finally sedated" su).

Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa