Lula inaugura linha de produção da Embraer para os caças Gripen, única fora da Suécia
Aeronaves serão montadas na cidade paulista de Gavião Peixoto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou na manhã desta terça (9) a linha de montagem dos caças Gripens na unidade da Embraer na cidade de Gavião Peixoto, distante 243 quilômetros da capital paulista. Trata-se da única linha de montagem do caça fora da Suécia.
Também participaram da cerimônia o ministro da Defesa, José Múcio, que discursou em nome do presidente, e o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar, Marcelo Damasceno. Ao lado deles, Lula descerrou a placa de inauguração da linha de montagem do caça.
Um Gripen que decolou da base de Anápolis, em Goiás, fez um voo de demonstração durante a cerimônia de inauguração. Lula não discursou e nem falou com a imprensa.
José Múcio disse que a transferência de tecnologia, mais do que evolução dos meios de defesa aérea do país, permite ao país aumento de sua capacidade operativa, atuando em alvos de longo alcance.
- Poucos países do mundo possuem essa capacidade - afirmou.
A montagem dos F-39 Gripen no Brasil faz parte do acordo de transferência de tecnologia firmado em 2014 entre o governo brasileiro e a sueca Saab, que desenvolveu os aviões. Em Gavião Peixoto, serão montados 15 caças Gripen dos 36 previstos no contrato assinado em 2014. O primeiro Gripen brasileiro ficará pronto em 2025.
- Participamos do desenvolvimento da aeronave 'biposto' (de dois lugares) e tenho certeza que as duas empresas estão aprendendo muito. É um círculo virtuoso que cria empregos qualificados no Brasil - disse o presidente da Embraer Defesa e Segurança, Bosco da Costa Jr.
Ele lembrou que há algumas semanas, a Embraer assinou memorando de intenções com a Saab para que as duas empresas colaborem em novos mercados, com oportunidades para o Gripen e o KC-390.
No ano passado, mais quatro caças foram incluídos no contrato, totalizando 40. Quatro caças montados na Suécia já estão em operação no país e outros dois chegaram ao país sexta-feira passada.
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Os outros 17 também virão da fábrica da Saab em Linköping, na Suécia. Todos os aviões serão entregues até 2027 e ficarão na Base Aérea de Goiânia. Há estudos para que a Força Aérea Brasileira (FAB) compre um segundo lote de 26 aeronaves.
Para a montagem dos caças em solo brasileiro, as aeroestruturas serão enviadas da unidade de Linköping e da fábrica da Saab localizada em São Bernardo do Campo (São Paulo). A unidade faz parte da cadeia de fornecimento global da Saab para o Gripen. E trabalha com as mesmas ferramentas, os softwares, os conceitos e as tecnologias utilizadas na produção do Gripen em Linköping.
200 funcionários na montagem
Pelo menos 200 funcionários estão envolvidos na montagem do Gripen no Brasil, sendo 60 da produção. Três estações finais de montagem, uma de limpeza e a área de preparação de voo foram implementadas para atender o caça.
- Vamos fabricar 15 aeronaves aqui e muitas mais para o Brasil e para outros países da América Latina. A Embraer sempre foi nossa parceira desde a assinatura do acordo e esta planta mostra nosso compromisso com a transferência de tecnologia para o Brasil - disse Micael Johansson, presidente da Saab.
Johansson disse em recente entrevista ao GLOBO que a montagem dos aviões em solo brasileiro consolida a cadeia de produção aeroespacial brasileira. As estruturas produzidas no Brasil e na matriz são idênticas e podem ser instaladas em qualquer caça Gripen.
Os Gripen fazem parte da renovação da frota brasileira, até então composta, majoritariamente, por caças americanos F-5, fabricados na década de 1970. O investimento da FAB foi de 39 bilhões de coroas suecas (cerca de R$ 19 bilhões) com financiamento de 25 anos.
Trata-se de uma aeronave multimissão, com funções de patrulha (ar-ar), ataque (ar-terra) e ainda com capacidade de operações contra alvos marítimos (ar-mar).
Treinamento na Suécia
Desde a assinatura do acordo até a entrega final dos aviões, mais de 300 técnicos e engenheiros brasileiros participarão de treinamentos teóricos e práticos, na Suécia, a fim de adquirir o conhecimento necessário para fazer as mesmas tarefas no Brasil.
Desde o início do projeto, a Saab estabeleceu uma parceria com a Embraer para receber a transferência de tecnologia e ser a responsável pela montagem dos caças no país.
Em Gavião Peixoto, já estão funcionando o Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (Gripen Design and Development Network) e o Centro de Ensaios em Voo do Gripen (Gripen Test Flight Centre), que completam o ecossistema de fabricação do caça. Na fábrica de São Bernardo, estão sendo produzidos o cone de cauda, os freios aerodinâmicos, a fuselagem traseira e dianteira para o Gripen.
A brasileira AEL produz os três displays avançados de cabine. Johansson disse, durante a cerimônia de inauguração da linha brasileira, que o Brasil será uma espécie de hub do Gripen na América Latina, com o apoio da Embraer. Colômbia e Peru teriam interesse no caça, que poderá ser montado no Brasil.
A Saab tem investido numa jornada de internacionalização nos últimos anos. A companhia quer fortalecer sua posição em mercados estratégicos e o Brasil é um deles na América Latina. No setor de defesa, há diversas soluções da empresa em uso nas Forças Armadas brasileiras.
A Saab tem operações em mais de 30 países e seus produtos são vendidos para 100 países. A parceria para o desenvolvimento e produção dos Gripen no Brasil é o maior contrato de exportação da história da Suécia e o maior programa de transferência de tecnologia em curso atualmente naquele país.