Pré-candidato

Salles monta bunker bolsonarista em casa para articular direita em São Paulo

Deputado federal tem reunido nome ligados ao ex-presidente para fortalecer pré-candidatura à prefeitura de SP

Ricardo Salles - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Pré-candidato do PL à Prefeitura de São Paulo em 2024, o ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal Ricardo Salles (SP) transformou sua casa, na capital paulista, numa espécie de bunker bolsonarista.

Quinzenalmente, às segundas-feiras, ele recebe para um café da manhã a tropa de choque de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro para um café cuja pauta envolve estratégias para a direita e articulação de sua pré-candidatura. O plano também é implementar uma guinada à direita no PL, tradicionalmente uma sigla fisiológica de centro-direita.

Situada no Jardim Paulista, bairro nobre da cidade, a casa de decoração rústica que abriga mobílias como uma estatueta de capivara de madeira e tapetes de pele animal, tem sido o endereço da reunião do núcleo duro do bolsonarismo paulista.

São frequentadores assíduos os deputados federais Eduardo Bolsonaro, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Paulo Bilynskyj e Mario Frias; os deputados estaduais Lucas Bove, Gil Diniz, Major Mecca, Conte Lopes e Paulo Mansur; e o vereador de São Bernardo do Campo Paulo Chuchu, ex-assessor de Eduardo.

A oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e temas estaduais como segurança pública costumam estar na pauta. Na reunião da última segunda-feira, Salles e os convidados discutiram como derrotar o requerimento de urgência para um projeto de lei na Câmara que regulamenta a remuneração de conteúdo jornalístico e o pagamento de direitos autorais nas plataformas digitais.

A ideia inicial da Casa era tratar o tema por meio do PL das Fake News, mas, por ser um texto mais amplo e que tem como foco responsabilizar as plataformas digitais pela eventual prática de crimes, líderes preferiram fatiar o projeto.

Os bolsonaristas também aproveitam o encontro para articular requerimentos de informação, convocação de autoridades e audiências públicas no Congresso e como se comunicar nas redes sociais em temas sensíveis para a direita.

— E obviamente temos discutido a necessidade de o partido ter mais coerência sobre a visão da direita. Queremos tornar o PL num partido ideológico de direita — diz Salles.

PL raiz
Desde o aval público dado por Bolsonaro à empreitada eleitoral de Salles, o grupo passou a ganhar adeptos do "PL raiz" — a ala próxima ao cacique Valdemar Costa Neto que já estava na sigla antes do desembarque dos bolsonaristas em 2022. O próprio ex-presidente participou por videoconferência de um encontro em março para selar o apoio.

O último café da manhã teve a participação de figuras tradicionais do PL como Carlos Cezar, líder do partido na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Luiz Carlos Motta, Ricardo Madalena e Jefferson Campos, próximos a Valdemar. O deputado Márcio Alvino e o presidente da Alesp, André do Prado, foram convidados, mas não puderam comparecer.

Trata-se de uma tentativa de Salles de ampliar o apoio à candidatura própria do PL à Prefeitura, que hoje está oficialmente na base de apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). No sábado, durante um evento do PL Mulher, os dois se estranharam.

— A presença desses deputados só reforça a unidade do partido em torno de um nome próprio. A decisão do Valdemar (sobre quem apoiar) vai ser embasada em dois pontos: a palavra do Bolsonaro e as pesquisas. Não acho que o partido vai desperdiçar a oportunidade de comandar o terceiro (maior) orçamento do país — diz Lucas Bove, que fez dobradinha com Salles na eleição de 2022.