Estreia peça que retrata Anna Paes e invasão holandesa em Pernambuco
Autor veio fazer pesquisa no Recife
Um dos períodos mais estudados e documentados da história brasileira, o domínio holandês no Nordeste do País, no século 17, será explorado na peça teatral “Babilônia Tropical". O espetáculo tem estreia nacional nesta sexta-feira (12) no Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte e fica em cartaz até 5 de junho. A invasão holandesa durou 24 anos, de 1630 a 1654, financiada pela Companhia das Índias Ocidentais.
No palco, o diretor paulistano Marcos Damigo remonta à época em que o Estado de Pernambuco gerava riqueza a Portugal pelo plantio da cana-de-açúcar. O espetáculo traz à cena Anna Paes, que viveu no período holandês e a posição singular que ela ocupou na sociedade. O ponto de partida para a investigação é um bilhete de próprio punho, escrito por Anna para Maurício de Nassau, govenador do Brasil holandês de 1637 a 1644, presenteando-o com seis caixas de açúcar quando ele chegou ao Brasil.
Figura histórica real, Anna Paes, que é vivida na peça pela atriz Carol Duarte, era a senhora do Engenho de Casa Forte, localizado na Zona Norte do Recife, e desafiou a sociedade ao se casar com dois oficiais holandeses, além de defender a permanência dos flamengos na Capitania de Pernambuco.
Peça "Babilônia Tropical" - Foto: Julia Kazia/divulgação
“Babilônia Tropical - A Nostalgia do Açúcar" mergulha nessas contradições da época ao tentar reconstituir momentos da vida desta mulher. "Somos condicionados pelo modo como entendemos o nosso passado e isso revela uma certa fragilidade, algum ridículo que exploramos também na cena. É um processo bem diferente do que experimentei com o espetáculo "Leopoldina, Independência e Morte", cuja personagem histórica é extensamente documentada. Há muita pouca informação sobre Anna Paes", considera o diretor e idealizador Marcos Damigo.
Para ele, levar ao palco a história do Brasil é evocar um passado que insiste em continuar existindo. "O interesse do público nesse tipo de obra é uma prova disso. Ao mesmo tempo, é uma responsabilidade imensa dar vida às pessoas que vieram antes de nós para que possamos transformar o modo como nos enxergamos e assim, quem sabe, ativar nossa sensibilidade para uma melhor compreensão de nós mesmos", afirma.
O espetáculo propõe, por um lado, uma presença mais realista dos intérpretes no debate das questões levantadas pela tentativa de reconstituição histórica. Por outro lado, sugere um lirismo artístico, que recria um diálogo possível entre passado, presente e futuro na utilização de recursos audiovisuais. Dessa maneira, cria-se uma nova camada de diálogo entre as personagens, permitindo uma experimentação estética e crítica do que está sendo discutido em cena. Esses recursos vão desde imagens de arquivos até filmagens realizadas em estúdio por uma equipe audiovisual, incluindo até mesmo o uso de inteligência artificial na criação dessas imagens.
O ator e poeta Ermi Panzo assina a dramaturgia do espetáculo. O projeto recebeu apoio da Embaixada dos Países Baixos, o que possibilitou a viagem do autor a Pernambuco e também a participação do historiador Daniel Breda no processo de pesquisa, além de uma imersão com o elenco da peça. O movimento de reparação histórica na trama, a atuação dos personagens e o próprio questionamento de se reviver uma figura contraditória da história brasileira dá o tom dinâmico e fluido da apresentação.
Pesquisa
As investigações do diretor Marcos Damigo começaram em 2020, logo na época em que aconteceram as restrições provocadas pela pandemia da Covid-19. Em janeiro de 2021, passou um período no Recife, onde vasculhou os documentos, o acervo de museus e conversou com historiadores sobre a época da invasão holandesa durante o século XVII.
A peça estreia no CCBB Belo Horizonte e segue para o CCBB Brasília, CCBB São Paulo e depois para o CCBB Rio de Janeiro.