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Suspense "O Homem Cordial", de Iberê Carvalho, estreia nesta quinta, 11, nos cinemas brasileiros

O longa ganhou o prêmio de melhor ator e trilha musical em Gramado

O Homem Cordial - Divulgação

“O Homem Cordial”, novo filme de suspense dirigido por Iberê Carvalho (“O Último Cine Drive-in”), chega ao circuito de cinema comercial nesta quinta-feira (11). Mas o longa teve a sua estreia internacional no Cairo International Film Festival e, em Gramado (2019), ganhou o prêmio de Melhor Ator (Paulo Miklos) e Trilha Musical. O enredo aborda uma questão que nunca esteve tão relevante como agora: a cultura do cancelamento.

A história retrata um episódio na vida de Aurélio Sá (Paulo Miklos), líder e vocalista de uma banda de punk rock, “Instinto Radical”. O grupo é uma paródia dos músicos dos anos 1990 que cantavam as questões sociais, mas eram cheios de discursos ingênuos, afinal de contas, a maioria dos conjuntos do gênero desse período era composta por adolescentes brancos de classe média que tinham o privilégio de poder falar o que quisessem.

Ao voltar aos palcos, o cantor se envolve em um incidente que culmina em um policial morto e um vídeo viralizado na internet. Apesar das constantes ameaças, Aurélio sempre negou ter qualquer tipo de envolvimento no crime. Um dia, ao tentar fugir de manifestantes, ele conhece a jornalista Helena (Dandara de Morais), que deseja não apenas ouvir o lado do cantor, mas também contar com sua ajuda para encontrar o pequeno Mateus (Felipe Kenji), um garoto que está desaparecido desde a confusão.

O astro se vê inserido em uma tensa e violenta jornada pelas ruas de São Paulo, que reflete a realidade racista do Brasil e a velocidade que uma fake news consegue estragar injustamente a vida de alguém. Só nos últimos minutos do longa que vemos o que realmente aconteceu e percebemos o quão rápido as pessoas foram em julgar o artista e ignorar a verdadeira vítima do caso: a criança negra desaparecida que foi perseguida pelo policial.

A película encara o desafio de se passar em apenas uma noite, mas isso não se torna um obstáculo para a trama e apenas ajuda no ritmo, fazendo uma ponte perfeita com a agilidade da era das redes sociais e a facilidade de gravar um vídeo quando todos têm esse poder dentro de seu bolso.

“A internet é o ambiente perfeito para que ocorra o efeito manada, ou seja, quando um grupo de indivíduos segue a opinião ou ação de outros de forma irracional, sem analisar os fatos e fundamentos. No filme, vemos como cada comentário, cada postagem, cada curtida ou compartilhamento de uma fake news tem um impacto direto na vida de alguém no mundo real. E esse impacto se potencializa dependendo de que grupo social ou étnico você pertence”, explica o diretor e sociólogo de formação, Iberê Carvalho.

O título faz referência a um conceito desenvolvido pelo historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda em seu livro “Raízes do Brasil”. Hoje, essa teoria se relaciona com o que ficou popularmente conhecido como “jeitinho brasileiro”, mas Sérgio vai mais além na sua explicação e aborda também a superficialidade e insubordinação do brasileiro por tomar atitudes guiadas pelo coração (de maneira emotiva) à frente da razão. Ao longo da obra, nós vamos percebendo que o homem cordial retratado não é o protagonista apenas, mas, sim, a sociedade inteira que o cerca.