Bolsonaro deverá dizer à PF que não tomou vacina e não tinha motivo para fraudar sistema do SUS
De acordo com investigações da Polícia Federal, ele é suspeito de participação em esquema de inserção de dados falsos nos sistemas do Ministério da Saúde
Quase duas semanas após ser alvo de uma operação que investiga a inclusão de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde, o ex-presidente Jair Bolsonaro dirá em depoimento a partir das 14h da próxima terça-feira (16) que não teve qualquer participação no esquema de adulteração dos seus documentos e de sua filha. A exemplo do que disse nas rápidas entrevistas que concedeu no dia das buscas da Polícia Federal em sua casa, Bolsonaro vai frisar aos investigadores não ter se imunizado.
De acordo com as investigações, as fraudes teriam ocorrido entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 e tinham como objetivo tornar Bolsonaro, seus parentes e funcionários a condição de imunizados contra a doença. Com isso, eles poderiam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes e viajar para destinos internacionais, como os Estados Unidos.
Nesse sentido, Bolsonaro deverá ponderar que, em todos os lugares que desembarcou, a exigência da vacina era dispensada. A defesa do ex-presidente tem citado supostos ataques hacker nos sistemas do Ministério da Saúde, o que também deverá ser mencionado no depoimento. Em janeiro, um grupo chegou a divulgar um cartão de vacinação que supostamente seria dele, com a aplicação de doses em uma unidade de saúde em São Paulo, com data de 19 de julho de 2021.
"Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina. Ponto final — afirmou Bolsonaro na porta de sua casa, num condomínio em Brasília, no último dia 3." Em momento nenhum eu falei que tomei a vacina e não tomei."
O ex-presidente deverá ainda repetir que a sua mulher, Michelle, que também teria dados de vacinação falsificados no sistema, se vacinou em 2021 justamente durante uma viagem aos Estados Unidos. Já sua filha Laura, cujas informações lançadas também são alvo de suspeitas, não tomou o imunizante por possuir um laudo médico que comprova comorbidades.
"Ela (Michelle) tomou a vacina nos EUA, da Janssen. E outra minha filha, que eu respondo por ela, a Laura, de 12 anos, não tomou a vacina também. Tenho laudo médico no tocante a isso. Fico surpreso com a busca e apreensão por esse motivo" afirmou Bolsonaro.
Em relação a trocas de mensagens rastreadas nos telefones celulares de outros alvos da PF e que eventualmente cite outros crimes, como menções a golpe de estado, o ex-presidente deve dizer que desconhece tais conteúdos.
O inquérito aponta que Jair Bolsonaro teria emitido novamente o certificado de imunização contra a doença 15 dias antes de retornar dos Estados Unidos ao Brasil. Na ocasião, um perfil que seria associado aos dados do ex-presidente foi conectado ao aplicativo ConecteSUS por pelo menos quatro vezes desde dezembro do ano passado - a última delas às 8h15 de 14 de março.
Na representação pelos mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva, a PF afirma, em diligência complementar, ter solicitado as informações à Secretaria de Governo Digital. Segundo os investigadores, até 22 de dezembro, a conta do ex-presidente era administrada, ao que tudo indica, pelo tenente-coronel Mauro Cesar Cid, seu ex-ajudante de ordens.
A partir dessa data, o cadastro da conta de Bolsonaro foi alterado para um email de Marcelo Costa Camara, então assessor especial de Jair Bolsonaro e quem acompanhou o ex-presidente em sua estadia na cidade de Orlando, nos Estados Unidos. “A alteração cadastral foi realizada a partir do mesmo endereço de IP utilizado para emitir o certificado de vacinação ideologicamente falso, com registro no Palácio do Planalto”, frisou a PF.
“Desta forma, é possível concluir que o acesso ao aplicativo ConecteSUS e as consequentes emissões de certificado de vacinação contra a Covid-19, nos dias 22 e 27 de dezembro de 2022, pelo usuário do ex-Presidente da República JAIR BOLSONARO foram realizados no Palácio do Planalto, local condizente com a atividade então exercida por JAIR MESSIAS BOLSONARO”, destacou a PF.
Para a PF, “tais condutas, contextualizadas com os elementos informativos apresentados, indicam que as inserções falsas podem ter sido realizadas com o objetivo de gerar vantagem indevida para o ex- Presidente da República, JAIR BOLSONARO relacionada a fatos e situações que necessitem de comprovante de vacinação contra a Covid-19. Conforme exposto, a própria alteração cadastral de e-mail da conta “GOV.BR” de JAIR BOLSONARO foi realizada no contexto das inserções falsas e gerações de certificados ideologicamente falsos”.