Eleições

Batalha de Biden pela reeleição é política, mas também financeira

Nos Estados Unidos, o dinheiro move as campanhas eleitorais e um candidato pode até mesmo ser medido por sua habilidade para atrair doações

O presidente dos EUA, Joe Biden, embarca no Marine One ao partir da Wall St. Landing Zone a caminho do Aeroporto Internacional John F. Kennedy na cidade de Nova York em 10 de maio de 2023 - Brendan Smialowski / AFP

Pela primeira vez desde o anúncio de que tentará a reeleição em 2024, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, iniciou uma viagem nesta quarta-feira (10) para arrecadar fundos em uma corrida que pode superar todos os recordes de gastos de campanha.

Após criticar os republicanos pela estagnação nas discussões sobre a elevação do teto da dívida do país durante discurso em um subúrbio ao norte da cidade de Nova York, Biden tinha marcados na agenda dois eventos potencialmente lucrativos com doadores poderosos.

Em um deles, organizado por um poderoso financista, o valor do ingresso era de 25 mil dólares (cerca de R$ 125 mil) por pessoa, segundo a emissora CNBC.

Nos Estados Unidos, o dinheiro move as campanhas eleitorais e um candidato pode até mesmo ser medido por sua habilidade para atrair doações. A teoria diz que, se há pessoas influentes suficientes dispostas a doar, então este candidato é um vencedor.

Mais de 2 bilhões
Os conselheiros de campanha de Biden disseram ao jornal The Washington Post que esperam arrecadar mais de 2 bilhões de dólares (cerca de R$ 10 bilhões) para ajudar o candidato octogenário a conseguir um segundo mandato na Casa Branca.

Pelo lado do ex-presidente Donald Trump, visto como o mais provável adversário republicano, seus colaboradores insistem em que, mesmo com as 34 acusações criminais que envolvem o pagamento de suborno à atriz pornô Stormy Daniels, as doações de para campanha do magnata só aumentaram.

A organização sem fins lucrativos Open Secrets, que faz o acompanhamento dos dados de financiamento de campanhas, estima que o ciclo de 2024 das eleições presidenciais pode ser o mais caro da história.

Em 2020, quando Biden finalmente derrotou Trump, a eleição presidencial custou a soma de 5,7 bilhões de dólares (quase 30 bilhões de reais), mais que o dobro do montante gasto em 2016, segundo a Open Secrets.

Além disso, as contribuições de campanha não vêm apenas de bilionários e grandes empresas. Em 2020, de acordo com a Open Secrets, Biden recebeu mais de 400 milhões de dólares (mais de R$ 2 bilhões) de pequenos doadores, com aportes individuais de até 200 dólares (cerca de R$ 1.000).

Os veículos de comunicação americanos insistem amplamente que Biden vai contar novamente com os recursos dos executivos do setor de tecnologia e de outros pesos pesados dos negócios, mas será que as doações serão mais modestas desta vez?

As últimas pesquisas de opinião não trazem boas notícias para Biden, que deverá superar as preocupações que giram em torno de sua idade e com o alto custo de vida nos Estados Unidos.

Velho demais?
Uma pesquisa recente feita em conjunto pela emissora ABC News e o jornal Washington Post revela que 68% dos americanos entrevistados acreditam que o democrata é muito velho para um segundo mandato. Já em relação a Trump, que tem 76 anos, apenas 44% pensam o mesmo.

Ademais, o índice de aprovação de Biden caiu para 36%, segundo o levantamento, um número inferior aos de Gerald Ford, Jimmy Carter e Trump no mesmo período de suas respectivas eleições presidenciais. Todos eles fracassaram em sua tentativa de conseguir a reeleição.

Nesse sentido, Biden precisa garantir que não será derrotado na batalha de arrecadação de fundos com Trump, que lançou formalmente sua candidatura presidencial no fim do ano passado.

As leis eleitorais dos EUA tornam difícil saber exatamente com quanto dinheiro conta cada candidato, com limites de doações estabelecidos pelo Comitê Eleitoral Federal, mas também com várias formas de contribuição individual.

A maior parte do fluxo de dinheiro chega através dos comitês de ação política (PAC) e dos também conhecidos como Super-PAC, que desempenham um papel fundamental, embora muitas vezes obscuro.

Os Super-PAC estão isentos de algumas restrições sempre que não entreguem o dinheiro diretamente a um candidato ou coordenem a maneira na qual os recursos vão ser investidos, o que permite a entrada do dinheiro corporativo.

Trump afirma que arrecadou cerca de 18 milhões de dólares (por volta de R$ 90 milhões) entre 15 de novembro de 2022 e 31 de março deste ano, de acordo com informações que vieram a público.

No entanto, sua campanha afirma que conseguiu quase esse mesmo valor - mais de US$ 15 milhões (R$ 75 milhões), segundo o site Politico - nas duas semanas posteriores à sua acusação formal em Nova York, em 31 de março, pela suspeita de falsificação de registros empresariais.

Na terça, Trump foi considerado responsável de agressão sexual e difamação contra uma ex-jornalista americana e deverá pagar 5 milhões de dólares (cerca de R$25 milhões) por danos e prejuízos. Resta saber quais serão os impactos disso em sua campanha e arrecadação.

Por sua vez, o governador republicano da Florida, Ron DeSantis - que é cotado como um dos aspirantes à candidatura presidencial de seu partido em 2024 - pode estar sentado sobre um cofre de campanha de mais de 100 milhões de dólares (R$ 500 milhões).