CÂMARA FEDERAL

Lula diz que nenhum deputado é obrigado a votar com o governo: "Faz parte do jogo"

Lula deu as declarações durante cerimônia de Lançamento do Programa Escolas de Tempo Integral, no Ceará

Presidente Lula - José Cruz/Agência Brasil

Em meio a uma crise na sua articulação política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta sexta-feira (12), que "nenhum deputado é obrigado a votar naquilo que o governo quer", mas ressaltou a necessidade de conversar com todos os parlamentares, independente do partido político.

— Cada votação você tem que conversar com todos os deputados. Nenhum deputado é obrigado a votar naquilo que o governo quer, do jeito que o governo quer. O deputado pode pensar diferente. Pode querer fazer uma emenda, ele pode querer mudar um artigo, e nós temos que entender que isso faz parte do jogo democrático. Não é o Congresso que precisa do governo. É o governo que precisa do Congresso.

Lula deu as declarações durante cerimônia de Lançamento do Programa Escolas de Tempo Integral, no Ceará. O presidente estava acompanhado pelos ministros Camilo Santana (Educação), Jader Filho (Cidades), e pela primeira dama, Janja da Silva.

O governo tem tido semanas complicadas no Congresso Nacional. O Palácio do Planalto viu, por exemplo, a derrubada de trechos do decreto do saneamento na Câmara dos Deputados, com o apoio de parlamentares de partidos que compõem a base do governo, como é o caso do PSB, legenda que tem, além de ministros, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, chamou o episódio de "derrota importante" e culpou a falta de diálogo com líderes, erro também reconhecido pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Após o episódio, Lula determinou que o governo faça rodadas de conversas com os partidos com controle de ministério para cobrar fidelidade da base.

Além disso, foram criadas quatros comissões parlamentares de inquérito (CPIs). Uma delas, a CPI do 8 de Janeiro, é conjunta na Câmara e no Senado. As outras três são da Câmara. Entre elas, a CPI do MST, que pode causar desgaste ao governo.

Na seara econômica, o governo começa a ver atrasos no calendário programado para a votação do novo arcabouço fiscal. O relator da proposta, deputado Cláudio Cajado (PP-AL) atrasou a apresentação do texto final, adiando de quinta-feira para segunda-feira, se houver acordo com as lideranças partidárias.

A expectativa era que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) já pautasse a votação para terça-feira, o que agora pode não ocorrer.

Além disso, Cajado criticou o governo e disse que é necessário um alinhamento de discurso sobre o tema.

– Estamos com dificuldades com o governo. Membros do partido dos trabalhadores estão sendo contra. O governo precisa ajudar também para ter um discurso único e definir quem fala pelo governo.

Nesta quinta-feira, por exemplo, Padilha afirmou que o PT tomou a decisão de não apresentar emendas ao texto, o que era articulado por parlamentares da legenda a contragosto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Na mesma oportunidade, Padilha, que é responsável pela articulação política do governo, cobrou seus colegas de esplanada a ajudarem nas negociações políticas para além do diálogo com as próprias legendas.