Migração

Regras mais duras começam a desestimular migrações na fronteira EUA-México

Governo dos Estados Unidos disponibilizou o aplicativo CBP One, que deve ser usado para marcar uma consulta e demonstrar a necessidade de asilo

A Guarda Nacional do Exército do Texas observa os migrantes embarcarem em um ônibus depois de se renderem aos agentes da Patrulha de Fronteira da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) dos EUA para processamento de solicitações de imigração e asilo. - Patrick T. Fallon/AFP

O endurecimento das regras na fronteira entre México e Estados Unidos começa a forçar muitos migrantes a optarem por vias legais para migrar. As travessias irregulares estão diminuindo, mas as causas desse fluxo ameaçam mais uma vez ultrapassar as restrições.

Ontem (13), O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, visitou um posto de fronteira na cidade de Matamoros (nordeste), no estado de Tamaulipas, vizinho de Brownsville, no Texas.

“Todo o mundo tem que ter paciência”, disse o presidente, ao responder brevemente aos jornalistas sobre a crise migratória.

Embora a medida Título 42 tenha sido invocada para executar 2,8 milhões de expulsões de migrantes para o México, agora, com a Título 8, que permanece em vigor, eles ainda podem ser devolvidos para seus países de origem e ficar impedidos de solicitar asilo. Se forem presos, também estarão proibidos de voltar por um período de cinco anos e podem ser penalizados.

Para tratar da questão, o governo dos Estados Unidos disponibilizou o aplicativo CBP One, que deve ser usado para marcar uma consulta e demonstrar a necessidade de asilo. O aplicativo está sobrecarregado, apesar de Washington ter prometido aumentar o número de consultas diárias para 1.000.

"A fronteira não está aberta", repetem membros da Casa Branca.

O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, afirma que o fluxo de pessoas para a fronteira "está diminuindo".

"Não tivemos confrontos nem situações de violência", disse o chanceler em entrevista coletiva na sexta-feira (12), em contraste com as previsões do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre uma situação "caótica" transitória.

A crise migratória é um assunto delicado para o democrata Biden, que buscará a reeleição em 2024, e um tema de campanha para seus rivais republicanos.

Bloqueio mexicano

O menor deslocamento de migrantes coincide com a decisão do México de "não conceder" documentos para transitar pelo país, segundo Ebrard.

Esses papéis permitiam que os migrantes se deslocassem do sul do México para a fronteira norte.

No sábado, porém, na fronteira sul do México, continuava a chegada de migrantes aproveitando a escassa vigilância, mas não foram observadas grandes quantidades.

"Continuam cruzando como sempre, e não reforçaram a presença da Guarda Nacional Nacional, ou do Exército", disse à AFP Heyman Vázquez, padre de Tapachula, no estado de Chiapas (sul), fronteira com a Guatemala. O sacerdote auxilia os estrangeiros com alimentos.

Na quinta-feira passada, as autoridades migratórias fecharam naquela cidade um centro provisório onde eram concedidas permissões para atravessar o México. Com isso, ontem, centenas de pessoas chegaram a Tuxtla Gutiérrez, a capital estadual, para tentar regularizar sua situação em outros escritórios públicos.

O governo da Guatemala prevê uma "situação humanitária muito difícil", pois terá de oferecer abrigo a pessoas que transitam pelo país enquanto "aguardam seu procedimento" de asilo, disse na sexta-feira o secretário presidencial de Comunicação, Kevin López.

Entre as vias legais para a migração, também há programas de reunificação familiar e permissões humanitárias para venezuelanos, haitianos, nicaraguenses e cubanos.

Em qualquer um desses casos, os migrantes devem tramitar o pedido antes de chegar aos portos de entrada. As exceções são poucas, como, por exemplo, se o asilo foi negado em um país pelo qual passaram a caminho dos Estados Unidos, se não conseguiram usar o aplicativo CBP One, ou no caso de crianças não acompanhadas.

Especialistas alertam sobre as limitações dessas medidas.

"Isso vai violentar ainda mais o processo migratório, que não vai parar enquanto não houver, nos países expulsores, condições para isso", disse à AFP Eduardo González, acadêmico do Tecnológico de Monterrey.

A situação também pode continuar a ser aproveitada por "coiotes", ou traficantes de pessoas, que transformaram a migração ilegal em um negócio milionário.

"As soluções mais cruéis produzem desordem e empoderam os traficantes", afirmou o presidente do Comitê Internacional de Resgate, David Miliband, em um comunicado.