'Rainha Charlotte': qual é a doença do rei George em Bridgerton?
Página oficial da família real britânica considera possibilidade de porfiria, mas pesquisadores têm defendido que relatos caracterizam um transtorno de bipolaridade
No último dia 4, a Netflix lançou sua nova produção original, a série "Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton". Trata-se de um spin-off do universo introduzido pelas duas temporadas de "Bridgerton", uma das obras mais vistas da plataforma. Na nova série, os espectadores conhecem mais sobre a origem da rainha Charlotte e do rei George, assim como o diagnóstico que ele enfrenta.
Desde a produção original, o público já sabia que o rei apresentava alucinações e confusão mental, embora pouco explorados. Na nova série, porém, o tema é abordado com mais profundidade, com episódios maníacos e o início de um tratamento doloroso que prometia curar George, interpretado pelo ator Corey Mylchreest na obra.
A série, porém, não afirma exatamente qual era o diagnóstico do rei, até porque a história original se passa nos anos 1800. Ainda assim, o personagem não é totalmente fictício, ele é inspirado na vida real do rei George III e de sua esposa, a rainha Charlotte, o que dá pistas sobre a doença.
O monarca, que nasceu em 1738, foi rei do Reino Unido até 1820, quando morreu. Foi durante a época em que esteve no poder que os Estados Unidos tornaram-se independentes. No entanto, um dos principais fatos lembrados sobre George era seu quadro de saúde – que inspirou o diagnóstico na série.
De acordo com a biografia disponível no site oficial da família real britânica, o antigo rei sofreu “graves surtos de doença em 1788-89 e novamente em 1801”, e “tornou-se permanentemente perturbado em 1810”. “Ele era mentalmente incapaz de governar na última década de seu reinado; seu filho mais velho - o futuro Jorge IV - atuou como Príncipe Regente a partir de 1811. Alguns historiadores médicos disseram que a instabilidade mental de Jorge III foi causada por um distúrbio físico hereditário chamado porfiria”, diz a página.
A porfiria é um nome dado a um conjunto de doenças raras caracterizadas por um defeito na produção de enzimas da hemoglobina chamadas heme. A hemoglobina é responsável pelo transporte do oxigênio no sangue, por isso uma falha nesse mecanismo afeta diversos processos no corpo.
Segundo a organização de saúde Mayo Clinic, dos Estados Unidos, existem dois tipos principais de porfiria. O primeiro são as agudas, que começam rapidamente e afetam principalmente o Sistema Nervoso Central (SNC). Já o segundo são as chamadas porfirias cutâneas, que afetam principalmente a pele.
Existem ainda tipos de porfiria que afetam o sistema nervoso e a pele. Geralmente, o quadro é resultado de uma mutação genética que é herdada, ou seja, transmitida pelo pai ou pela mãe para o filho.
Não há cura para a porfiria, embora tratamentos atuais consigam ajudar a controlar os sintomas. Nos casos que afetam o sistema nervoso, as manifestações envolvem alterações mentais, como ansiedade, alucinações ou confusão mental, mas também dores no corpo, problemas digestivos, urina avermelhada ou na cor marrom, batimentos cardíacos irregulares, problemas respiratórios, entre outros.
Pesquisadores defendem que transtorno bipolar é mais possível
Embora a página oficial da família real ainda considere a probabilidade de porfiria, pesquisadores nos últimos anos têm defendido que o diagnóstico pode estar incorreto, e que o rei George III tenha sofrido, na realidade, de transtorno de bipolaridade.
Em 2011, o pesquisador Timothy Peters, do Instituto de Arqueologia e Antiguidade da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, escreveu uma revisão sobre as evidências disponíveis e defendeu que o monarca tinha o transtorno mental, e não porfiria.
Ele cita por exemplo que “o rei teve outros episódios (de doença mental), porém mais brandos, em 1801 e 1804, que são menos intensamente documentados, mas os registros médicos os identificam claramente como episódios de transtorno bipolar, essencialmente mania”.
Dois anos depois, a hipótese ganhou mais força após um outro trabalho ser divulgado, de pesquisadores da Universidade de Londres. Eles analisaram milhares de cartas manuscritas de George III, e a linguagem empregada por ele nos documentos.
Eles descobriram que, durante os “episódios de doença” que eram relatados pelos médicos, as frases escritas pelo monarca eram muito mais longas, sendo comum até mesmo sentenças com 400 palavras. Além disso, o vocabulário tornava-se mais complexo, mais “criativo”, como definiram os responsáveis pelo trabalho.
Segundo eles, estes seriam mais indicativos que estariam relacionados a um transtorno de bipolaridade, e não a um quadro de porfiria.