"É como se houvesse um ímã entre elas", diz mãe de bebês siameses após cirurgia que as separaram
Annie e Issie Bateson nasceram unidas do peito à pélvis
Annie e Issie Bateson parecem ser crianças normais num primeiro olhar, porém, as gêmeas são descritas pelos pais, Hannah, 32, e Dan, 33, como “milagres”. Isso porque quando as duas nasceram, em março do ano passado, estavam unidas do peito à pélvis. Agora, 14 meses depois, eles estão entre os poucos gêmeos siameses que passaram com sucesso por uma extenuante cirurgia de separação.
"Poucos" provavelmente não resume o quão raras são essas garotinhas. Basta olhar para as estatísticas: em todo o mundo, gêmeos siameses ocorrem em uma em 60 milhões a uma em 190 milhões de gestações e, dessas, apenas 7,5% sobrevivem. Quando chegam à cirurgia, 40% não sobrevivem.
Embora a cirurgia para separá-las tenha as deixado com uma perna cada, ambas são extraordinariamente hábeis em arrastar os pés pelo chão da casa da família. “Issie encontrou sua voz, ela está balbuciando - uma verdadeira tagarela, enquanto Annie é mais uma malandra silenciosa”, diz Hannah.
O casal se casou em 2016 e já tentaram ter um bebê. Depois de dois anos sem sucesso, eles foram encaminhados para um centro de fertilidade em Belfast, onde Hannah — funcionária do Serviço Nacional de saúde do Reino Unido — foi informada de que ela teria que perder peso antes que o casal pudesse receber qualquer intervenção médica.
Ela conseguiu perder 11 quilos em um ano depois de passar por uma cirurgia de redução de estômago. O casal foi instruído pela equipe médica a esperar mais seis meses antes de poder receber um medicamento para fertilidade. Hannah engravidou no primeiro ciclo no verão de 2021, e o casal descobriu no ultrassom de 12 semanas subsequente que estavam esperando gêmeos. Porém, nem tudo estava bem.
“Pudemos perceber pelo jeito do médico que algo não estava certo. Então ele nos disse que os bebês poderiam ser um tipo raro que compartilham não apenas a mesma placenta, mas o mesmo saco amniótico”, chamados de gêmeos MCMA. Eles carregam um maior risco de complicações, desde aborto espontâneo e anormalidades fetais até natimorto.
Semanas depois foi descoberto por outros exames que além dos gêmeos que Hannah estava esperando serem MCMA, eles eram siameses, ou seja, ainda mais raros.
“Eu nem sei se realmente processamos a informação. Eu fiz toda essa pesquisa para gêmeos MCMA, o que foi uma coisa grande o suficiente então descobrimos que eles estão unidos e havia tão pouca informação. Achei difícil”, relembra Hannah.
O casal foi informado que seus bebês estavam unidos do peito à pélvis e que, crucialmente, seus corações estavam separados. Felizmente, não havia sinal de nenhuma outra anormalidade genética.
“As principais coisas que tornam a separação possível ou não são corações separados e saudáveis. A cada varredura, estávamos desesperados para ver aqueles dois corações batendo, mas, ao mesmo tempo, era assustador ver o quão perto eles estavam”, diz a mãe.
Hannah diz que os médicos revelaram que eles poderiam interromper a gravidez se eles preferissem, porém ela afirma que isso nunca havia sido uma questão. Eles tiveram de se mudar para Londres, para próximo do hospital, por volta da 26ª semana de gravidez, caso houvesse um parto precoce.
Os bebês nasceram no dia 8 de março de 2022, na data marcada desde o começo sem incidentes. O parto foi realizado com duas equipes de médicos e enfermeiras, uma para cada bebê.
“Eles nos pediram para escolher cores para cada garota e para todo o equipamento, e a equipe então coordenou as cores. Annie era rosa, Issie era amarela, então cada lado das camas foi colado com fita adesiva para quem era quem, assim como cada máquina e todas as enfermeiras também”, explicou Dan.
Os bebês foram rapidamente levados para uma sala ao lado para serem avaliados e estabilizados. Hannah havia perdido muito sangue e precisava ser estabilizada, o que significa que ela teve que permanecer em recuperação. A mãe relembra que precisou esperar 24 horas até ver suas filhas.
“Obviamente, foi difícil, mas eu me preparei para isso. Naquele ponto, eles estavam vivos e estavam se saindo melhor do que qualquer um esperava, isso era tudo que eu precisava saber”, diz ela.
Seis meses depois as garotas estavam sendo preparadas para a cirurgia. Foram ao todo 18 horas de procedimento. Segundo os pais, o “dia mais longo” da vida deles. Porém, felizmente, a cirurgia havia sido bem-sucedida.
Nos dois meses e meio seguintes, eles passaram por 30 procedimentos, incluindo 20 operações. Depois outros dois meses até que os médicos declararam que as bebês estavam prontas para voltar para a casa.
Cada mês desde então trouxe mudanças em constante evolução de bebês em crescimento, à medida que a dupla aprende a brincar, interagir e se mover. Nos próximos meses, cada um receberá uma órtese que lhes dará uma perna protética para ajudar a estabilizar seus corpos em crescimento.
“Haverá mais cirurgias ao longo dos anos, pequenas coisas que teremos que ajustar que serão diferentes para ambas as meninas. Realmente teremos muito trabalho pela frente”, conta a mãe esperançosa.