Líder do Wagner nega ter oferecido localização de soldados russos em troca de território na Ucrânia
Segundo o Washington Post, Prigojin teria negociado com Kiev as posições das tropas de Moscou caso o Exército ucraniano abandonasse os arredores da cidade de Bakhmut
O líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigojin, negou nesta segunda-feira ter oferecido a localização das tropas russas para Kiev em troca do território de Bakhmut, cidade que se tornou o epicentro dos confrontos na Ucrânia nos últimos meses. A declaração surge após o jornal Washington Post revelar no domingo a tentativa de negociação com base em documentos vazados do governo americano em abril.
Segundo a reportagem, Prigojin negociou informações sobre as posições dos soldados russos caso Kiev retirasse as tropas das regiões nos arredores de Bakhmut, um território-chave para o avanço de Moscou ao leste da Ucrânia. O líder dos mercenários do Wagner, que atuam como linha auxiliar da Rússia no campo de batalha, teria se encontrando em janeiro com oficiais do serviço secreto ucraniano em um país não identificado na África para tratar da proposta.
— Posso dizer com confiança (...) que não estive na África ao menos desde o começo do conflito, mas na verdade alguns meses antes do início da Operação Militar Especial (como a Rússia chama a guerra na Ucrânia) — reagiu Prigojin em uma postagem no Telegram. — Por essa razão, simplesmente não poderia ter encontrado com ninguém fisicamente.
O líder do Wagner chamou a reportagem de "farsa" e acusou jornalistas de estarem por trás da suposta invenção.
— Quem está por trás disso? Penso que ou alguns jornalistas decidiram exagerar ou os camaradas da elite resolverem inventar uma história bonita e plantá-la — apontou.
Ao jornal americano, dois funcionários do governo ucraniano confirmaram os contatos de Prigojin com o diretório da inteligência ucraniana, conhecido pela sigla HUR. Um deles afirmou que a oferta do manda-chuva do Wagner foi feita mais de uma vez, mas que as autoridades ucranianas não confiaram nela.
O chefe dos serviços secretos da Defesa ucraniana, Andriy Yusov, por outro lado, negou as acusações nesta segunda ao ser questionado sobre a reportagem do Post em um programa de TV ucraniano:
— Quem se beneficiaria com discussões sobre iniciativas assim agora? — retrucou Yusov.
As revelações representam mais um capítulo da relação conturbada entre o grupo Wagner e as Forças Armadas russas, que são contrários aos holofotes que os paramilitares estão ganhando na guerra. Neste mês, o chefe da milícia ameaçou abandonar Bakhmut se os russos não mandassem munições para seus soldados, algo que aconteceu depois. Apesar dos atritos no alto comando militar, Progojin segue sendo visto como um importante aliado do presidente russo, Vladimir Putin.
Os vazamentos revelados pelo jornal americano também apontam que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, propôs ataques ambiciosos contra a Rússia, como a ocupação de vilarejos do país e o bombardeio de um oleoduto que transfere petróleo russo para a Hungria. O país europeu é integrante da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que poderia desencadear uma escalada perigosa do conflito, já que seu Artigo 5 da Otan consagra o princípio da defesa coletiva, no qual ataques contra um Estado-membro é um ataque contra todos.
De acordo com o Post, os documentos até agora inéditos mostram Zelensky como "um líder com instintos agressivos que contrasta veementemente com sua imagem pública de estadista calmo e estoico". A autenticidade dos materiais foi confirmada por fontes na Defesa americana com quem o jornal conversou.