Literatura

Escritora pernambucana Ana Júlia lança livro em homenagem à irmã, "Luiza"; conheça a obra

"Luiza", lançado pela editora Novas Ases, traz narrativa poética sobre perda, saudade e amor entre irmãs

Escritora Ana Júlia celebra a irmã, Luiza, em livro in memoriam - Alexandre Aroeira / Folha de Pernambuco

Os pais ainda não conseguiram passar das primeiras linhas… Decerto a "inversão" de ver a filha partir ainda se faz latejante aos olhos de Doroty Lamour e José Henrique. Ana Luiza se foi aos cinco anos de idade, vencida pela catapora, em 2015.  A filha mais velha do casal, Ana Júlia, à época com onze anos, também viveu a dor de soltar a mão da irmã, literalmente como último ato em vida trocado entre as duas.

"É a lembrança mais forte que tenho: eu me deitei e segurei a mão dela. Adormeci e acordei com as pessoas a levando para o hospital". 

Hoje, aos 18 anos, Ana Júlia - natural de Palmares, Mata Sul do Estado - segue em meio à saudade de não ter mais a irmã (fisicamente) por perto, mas para além do tempo - que bradam por aí, cura tudo - ela expôs suas "poesias mais sinceras", como descreve na contracapa do livro cujo título é o nome de "Luiza".



Lançado pela editora Novas Ases em abril, mês de nascimento da caçula, agora eternizada também em linhas rimadas e sentidas. "Às vésperas de lançar, de mostrar para as pessoas o meu mundo, eu sonhei com ela segurando minha mão. Lembro de ter acordado sentindo o peso das mãos dela nas minhas. Decidi, então, seguir adiante e está aí o livro", contou Ana Júlia, em visita à Folha de Pernambuco.

"Eu quero muito que as pessoas saibam e conheçam a vida dela, que eu lamento muito não ter sido maior. Quero que as pessoas leiam o livro e não pensem em mim, mas que se olhem e se enxerguem em algum lugar da história", ressalta ela, que teve a ideia de estrear como escritora como uma forma de alento para si mesma, pela perda, dedicando as poucos mais de 180 páginas da obra a Luiza a quem ela se refere como um sol, o seu sol, nas linhas iniciais dos seus escritos.
 

Crédito: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

"A única coisa que continuou acontecendo aqui todos os dias era o nascer do sol, que permanecia entrando mesmo com as janelas e cortinas fechadas. Tão teimoso e insistente, como uma eterna lembrança de que você estava aqui o tempo todo, por todos os cantos, se me perguntarem o que faço, facilmente responderia que ando por aí procurando os cantos que o sol bate e faz tudo brilhar. Exatamente como você brilha em mim".

Das redes sociais para as páginas do livro
"Comecei a publicar algumas coisas no Instagram, mas desativei os comentários porque eu não queria ler os comentários. Mas aí vieram mensagens privadas de pessoas que diziam ter se identificado com os meus escritos", contou Ana Júlia, que efetivamente, com o lançamento de "Luiza", entregou seus próprios sentimentos ao universo da literatura.

Crédito: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

"Foi muito importante dar o nome dela (da irmã) não livro e foi necessário materializar, porque eu não quero apagar a história dela, quero que as pessoas tenham acesso a ela através de mim (...) E a ideia do livro veio também por me encontrar perdida com a falta de minha irmã. Só ano passado, em meu processo de cura, consegui sentar e falar sobre tudo", complementou ela, sob o olhar de admiração da mãe, Doroty, e do pai José Henrique que, de pronto, prometeram seguir adiante com a leitura, sem tempo definido, a não ser o que lhes for exigido pelo coração, quiçá disposto a ser atenuado por lembranças escritas por Ana Júlia para Luiza - que terão páginas de suas vidas contadas, também, nas bienais do Rio de Janeiro e de Pernambuco, respectivamente em setembro e outubro. "Luíza" está disponível na Amazon (R$ 49,90) e no Instagram da autora (@anajcarneiro).