EX-PRESIDENTE

Bolsonaro depõe à PF: saiba o que ele terá de responder sobre a fraude em cartões de vacina

Será a segunda vez em apenas 20 dias em que o ex-presidente dará explicações à Polícia Federal; advogados comandaram treinamento na véspera da oitiva

Jair Bolsonaro - Sérgio Lima/AFP

Pela segunda vez em um período de apenas 20 dias, Jair Bolsonaro vai depor, nesta terça-feira (16), à Polícia Federal. Se, na oitiva ocorrida em 26 de abril, os agentes apuravam fatos ligados aos atos golpistas de 8 de janeiro, estará em pauta, desta vez, o caso envolvendo uma suposta fraude nos cartões de vacinação do ex-presidente e de pessoas próximas a ele.

No último dia 3, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Bolsonaro, que teve o celular retido pelos investigadores. Um dos aliados mais fiéis do ex-presidente, de quem foi ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid foi preso durante a operação.

O militar optou por manter o silêncio no dia da prisão, mas deve ter o depoimento colhido na próxima quinta-feira. Além de Bolsonaro, também será ouvido nesta terça o coronel Marcelo Costa Câmara, outro assessor do ex-presidente detido pela PF por suspeita de envolvimento na fraude vacinal.

Nesta segunda, véspera da oitiva, Bolsonaro passou por um treinamento com os advogados, com o objetivo de se preparar para as perguntas dos investigadores. A defesa do ex-presidente tem à frente o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno. Veja, abaixo, alguns dos pontos que precisarão ser explicados no depoimento.

 

O que Bolsonaro terá de esclarecer

Cartões de vacina dele e da filha: A PF identificou que os certificados de vacinação de Bolsonaro e da filha dele, Laura, foram adulterados e, em seguida, emitidos. O ex-presidente alega que sempre negou publicamente ter se imunizado contra a Covid-19, e diz o mesmo sobre a herdeira. Mas por que aliados tão próximos teriam, então, providenciado tais documentos falsos?

Mauro Cid fez tudo? A expectativa é que uma das principais linhas argumentativas da defesa do ex-presidente seja a de que o subordinado agiu sozinho, sem o seu conhecimento. A PF, porém, acredita ter em mãos elementos para questionar essa tese e vê indícios de associação criminosa na trama que envolve Bolsonaro.

Troca em e-mail: Com o avanço da apuração, a PF aponta como principal elemento que mostra o conhecimento de Bolsonaro a troca no e-mail vinculado à conta dele no aplicativo ConecteSUS no fim do governo — a gestão passou de Cid para Marcelo Câmara, auxiliar que seguiu ao lado do chefe pós-Presidência e também depõe hoje. Quem, afinal, era o verdadeiro responsável pela gestão da conta?

Inclusão de dados: Ainda segundo os investigadores, o login de Bolsonaro no aplicativo ConecteSUS estava associado ao e-mail de Cid até o dia 22 de dezembro do ano passado. Naquela data, foi gerado um certificado de vacinação do então mandatário com o registro falso de duas doses da vacina da Pfizer. Minutos depois, o e-mail de login foi alterado para o de Câmara. A cronologia é vista com muitas suspeitas pela Polícia Federal.

De dentro do Planalto: De acordo com a PF, a alteração cadastral foi feita a partir da conexão de rede do Palácio do Planalto. Essa informação é tida como mais um indício de que Bolsonaro sabia da fraude.

Rastros apagados: Seis dias depois da inclusão, em 27 de dezembro, os dados de vacinação de Bolsonaro foram apagados do sistema por uma servidora da Prefeitura de Duque de Caxias (RJ), que justificou a exclusão com a anotação de “erro”, ainda segundo os agentes federais. Por que a funcionária da Baixada Fluminense teria feito isso?

Registro também em São Paulo: Além das duas vacinas que teriam sido aplicadas em Caxias, há ainda, segundo dados inseridos no sistema, uma dose recebida por Bolsonaro em São Paulo. Embora já se saiba que ele estava distante dos locais da suposta imunização, o ex-presidente deve ser novamente questionado sobre o próprio paradeiro nas datas em questão.

Guerra ideológica: Uma das hipóteses levantadas pelos investigadores é a de que o grupo teria viabilizado a fraude vacinal para manter coeso o discurso bolsonarista contra a imunização. É provável que o ex-presidente seja convidado a falar sobre essa guerra ideológica.