Senador americano usa inteligência artificial para discursar em audiência sobre riscos da tecnologia
Democrata Richard Blumenthal tentava alertar colegas e cidadãos sobre os perigos do uso indiscriminado das ferramentas
O senador americano Richard Blumenthal, democrata do estado de Connecticut, abriu uma audiência no Senado de seu país sobre inteligência artificial com uma gravação de sua própria voz listando os riscos da tecnologia emergente.
— Com muita frequência nós temos visto o que acontece quando a tecnologia ultrapassa regulações — disse ele. — A exploração desenfreada dos dados pessoais, a proliferação de desinformação e o aprofundamento de desigualdades sociais.
O democrata, contudo, não escreveu sequer uma linha do que disse.
Arrancado risos na sala de audiência do Capitólio, o parlamentar afirmou que o texto foi escrito pela ferramenta de IA ChatGPT. O áudio, completou, veio de um aplicativo treinado com uma série de seus discursos prévios no Senado para emular sua voz.
Todos os olhos se voltaram para Sam Altman, diretor executivo da OpenAI, que estava sentado na mesa de testemunhas prestes a prestar depoimento. Ao seu lado, a chefe de privacidade e segurança da IBM, Christina Montgomery.
Blumenthal disse ser incrível que a inteligência artificial possa produzir um áudio tão realista, antes de continuar a ler seu pronunciamento no início da sessão. Afirmou, contudo, que o potencial de tais ferramentas pode ser aterrorizante:
— E se eu tivesse perguntado, e ele tivesse gerado um apoio à redenção da Ucrânia (às forças russas) ou à liderança de Vladimir Putin? — indagou o senador. — A perspectiva é amedrontadora.
Ele discursou na Subcomissão do Senado sobre Privacidade, Tecnologia e Lei, anfitriã da sessão sobre inteligência artificial. Altman, que criou o ChatGPT e é a mais recente revelação do Vale do Silício, disse durante a sessão que regular a IA é "crucial" para limitar os riscos do uso dessa tecnologia.
Ele pediu que o Congresso imponha novas regras às grandes empresas de tecnologia, apesar da profunda polarização política que há anos impede os parlamentares americanos de legislarem sobre o assunto. Segundo Altman, "a intervenção regulatória dos governos será fundamental para mitigar os riscos de sistemas cada vez mais potentes".
— É fundamental que a IA mais potente seja desenvolvida com valores democráticos, o que significa que a liderança dos EUA é fundamental — afirmou ele.
Risco à sociedade
O lançamento do ChatGPT em novembro aumentou o interesse do público e também das empresas pela chamada IA generativa, ou seja, capaz de criar conteúdo, texto, imagens, sons ou vídeos. Suas aplicações são polarizadoras, e seu possível impacto no mercado profissional gera preocupações com a possibilidade de cortes maciços de empregos.
— A OpenAI foi fundada com base na crença de que a inteligência artificial tem o potencial de melhorar quase todos os aspectos de nossas vidas, mas também cria sérios riscos — disse ele. — Um dos meus maiores temores é que nós, esse setor, essa tecnologia, causemos danos significativos à sociedade.
Se a tecnologia for pelo caminho errado, disse ele, os danos podem ser intensos, afirmando que deseja "trabalhar com o governo para evitar que isso aconteça". Altman afirmou ainda que embora sua empresa seja privada, ela é controlada por uma organização sem fins lucrativos, o que a obriga a "trabalhar pela ampla distribuição dos benefícios da IA e a maximizar a segurança" de seus sistemas.
Altman tem expressado regularmente seu apoio à criação de uma estrutura regulatória para IA, de preferência em nível internacional. No Senado americano, ele reconheceu ser algo muito difícil de construir, mas apontou para precedentes como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). (Com AFP)