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Estudo aponta que morreram 1,6 milhão de negros a mais do que brancos nos EUA em 20 anos

Pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association indica que taxa de mortalidade entre negros é muito maior que de brancos

Manifestantes erguem os punhos durante protesto do Black Lives Matter em Minneapolis. - Chandan Khanna/AFP

A diferença nas taxas de mortalidade entre americanos negros e brancos permaneceu grande nas últimas duas décadas e piorou durante a pandemia de Covid-19, de acordo com um estudo que encontrou grandes diferenças no excesso de mortalidade entre as populações.

De acordo com as descobertas publicadas no Journal of the American Medical Association, foram registradas mais de 1,6 milhão de mortes em excesso — indicador que aponta o número de mortes de determinada população, por qualquer motivo, durante um período de tempo determinado, em comparação a uma estimativa ou outra população — entre negros americanos, quando comparados à população branca do país nas últimas duas décadas.

As taxas de mortalidade ajustadas por idade variaram de 21% a 40% mais altas entre homens negros e de 13% a 31% mais altas entre mulheres negras em comparação com suas contrapartes brancas.

Os EUA fizeram algum progresso para melhorar os indicadores de saúde da população negra no início dos anos 2000, mas logo titubearam, disseram os pesquisadores. No início da pandemia de Covid-19, no início de 2020, o excesso de taxas de mortalidade entre os negros americanos disparou para a taxa mais alta desde 1999, apagando os sinais de recuperação observados nas últimas duas décadas, descobriu uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade de Yale.
 

— Uma lacuna de saúde considerável e recalcitrante permanece entrincheirada para os negros americanos — disse Harlan Krumholz, cardiologista da universidade e do Yale New Haven Hospital, que ajudou a escrever o estudo — A mensagem principal: é hora de tornar a equidade na saúde uma realidade.

A equipe examinou mais de 20 anos de dados de certidões de óbito dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA para fazer a comparação. Ao comparar a idade da morte prematura com a expectativa de vida típica dos negros americanos, os pesquisadores também foram capazes de estimar o total de anos potenciais de vida perdidos entre a população negra — 80 milhões de anos, segundo o estudo.

— Este estudo deve servir como um apelo à ação, especialmente para os formuladores de políticas — disseram os autores do estudo, acrescentando que "racismo estrutural, necessidades sociais não atendidas e viés sistêmico" contribuíram para o impacto descomunal provocado pelas crises de saúde no país.

Nas duas décadas analisadas pelo estudo, as mortes por doenças cardíacas foram o maior responsável pelo excesso de taxas de mortalidade entre americanos negros e brancos. Tanto para homens quanto para mulheres, as taxas excessivas de mortalidade por outras causas principais, como câncer e diabetes, geralmente diminuíram durante o período do estudo, embora as mortes por agressão tenham aumentado para homens negros.

Pandemia
O impacto da Covid-19 nos negros americanos no primeiro ano da pandemia indica que os esforços para diminuir as disparidades de saúde entre etnias foram minimamente eficazes, com progresso frágil.

No início da pandemia, as taxas de mortalidade por Covid entre americanos negros eram quase três vezes maiores do que as taxas de mortalidade entre americanos brancos. Desde então, vacinas e tratamentos ajudaram a diminuir essa lacuna, mas dados do governo mostram que os negros americanos ainda têm cerca de 1,6 vezes mais chances de morrer de Covid-19 do que seus compatriotas brancos.

Crianças negras morreram da doença em uma proporção quase três vezes superior a de crianças brancas, de acordo com um estudo publicado em março.

As diferenças na perda de vida foram mais proeminentes entre os bebês. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA estimam que as taxas de mortalidade infantil para bebês negros são cerca de 2,4 vezes maiores do que as taxas para bebês brancos.