Rússia e Ucrânia

Prorrogado por dois meses acordo de exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro

A Rússia concordou em não barrar a saída de navios dos portos ucranianos

Transporte de grãos em porto da Ucrânia - Stringer / AFP

O acordo de exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro foi prorrogado por dois meses, anunciou, nesta quarta-feira (17), o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que mediou as negociações entre Rússia e Ucrânia.

"Decidiu-se prorrogar por dois meses o acordo (de exportação) de grãos do Mar Negro", anunciou Erdogan na véspera do vencimento deste pacto, assinado inicialmente em julho de 2022, com o apoio da ONU.

A Rússia concordou em não barrar a saída de navios dos portos ucranianos, detalhou Erdogan, enfatizando que a prorrogação é "benéfica para todas as partes".

Pouco depois do anúncio, a Ucrânia manifestou seu "agradecimento" a Ancara e à ONU pela prorrogação do acordo de exportação de grãos, que "reforça a segurança alimentar mundial".

A Rússia confirmou a extensão do pacto por um período de dois meses, mas pediu para "corrigir" os "desequilíbrios" na aplicação do mesmo.

Segundo Moscou, suas exportações de fertilizantes e produtos agrícolas continuam sendo bloqueadas pelos países ocidentais, em resposta à invasão da Ucrânia.

O acordo fez caírem rapidamente os preços do trigo no mercado europeu abaixo dos 226 euros (R$ 1.211 na cotação de hoje) a tonelada para entrega em setembro, 8 euros (R$ 42,8) a menos do que na véspera.

O valor é muito inferior ao máximo alcançado em maio de 2022, quando a tonelada de trigo atingiu quase 440 euros (cerca de R$ 2.300 na cotação da época) no mercado europeu.

Um acordo ameaçado regularmente
A Ucrânia era um dos maiores exportadores de grãos do mundo antes da invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022.

A princípio, os navios de guerra russos bloquearam os portos ucranianos do Mar Negro, contribuindo para a disparada dos preços dos grãos nos mercados globais. A alta prejudicou particularmente os países mais pobres.

A Turquia e as Nações Unidas fecharam este acordo inicialmente em julho de 2022, em virtude do qual abriram corredores seguros para a navegação de navios carregados com cereais ucranianos.

No entanto, o acordo esteve regularmente em perigo toda vez que a Rússia e a Ucrânia tiveram que renová-lo.

Em 19 de março, o acordo foi renovado por 60 dias, e não por 120, como a Ucrânia queria, depois que a Rússia pôs uma série de condições sobre a mesa, entre elas a exportação de seus fertilizantes.

Até então, mais de 30 milhões de toneladas de grãos e outros produtos agrícolas foram exportadas graças ao acordo.

Apesar de ter sido privada de um quarto de suas terras cultiváveis e com uma produção que em 2023 será 50% inferior à de 2021, a Ucrânia "continua sendo vital" para o mercado mundial de grãos, informou à AFP, antes do anúncio desta quarta, Sébastien Abis, pesquisador associado do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), com sede na França.

O chefe de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, tinha manifestado na segunda-feira sua preocupação com a "redução significativa dos volumes de exportações que saem dos portos ucranianos", e pediu "responsabilidade" às partes pelo impacto do acordo nos países mais pobres.

O anúncio desta quarta ocorre em um momento oportuno para o presidente turco, que tentará, em 28 de maio, se reeleger em segundo turno contra seu adversário, Kemal Kiliçdaroglu.

"Putin dá de presente a Erdogan uma nova vitória diplomática antes do segundo turno da eleição presidencial" turca, escreveu no Twitter Emre Peker, do centro de reflexão Eurasia Group.